Procedimentos estéticos realizados por profissionais não habilitados são mais comuns do que se imagina

Cirurgiã plástica comenta casos de reconstrução e fala em busca por preço mais baixo e falta de conhecimento

Procedimentos estéticos realizados por profissionais não habilitados são mais comuns do que se imagina

O caso do peeling de fenol realizado por uma esteticista de São Paulo que matou um jovem de 27 anos e chocou o país, levantou a seguinte questão: por que profissionais inabilitados realizam procedimentos que colocam a vida em risco e por qual motivo os pacientes se submetem a isso? 

De acordo com a médica da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Patrícia Marques, o fato é mais comum do que se imagina e com alguma frequência, ela recebe pacientes em busca de correção de procedimento que deu errado. “Para citar um caso recente, uma paciente fez bichectomia com um dentista, ela não tinha indicação real para a cirurgia e, para piorar, foi retirada muita gordura da bochecha, deixando-a com o rosto encovado e bastante insatisfeita”, conta.

Bichectomia é um procedimento realizado para reduzir as bochechas, como se fosse uma lipo facial. Tanto os cirurgiões plásticos quanto os dentistas podem realizar o procedimento, já que no caso da gordura estar mais na parte interna da boca, ela pode interferir na mordida do paciente. Na prática, a grande maioria de quem busca pela bichectomia é para fins estéticos e como ela envolve a harmonização da face, o mais recomendado é que seja feita mesmo por um cirurgião. 

Outro caso que chamou a atenção da profissional foi uma alectomia - que é a redução ou reposicionamento das asas nasais ou narinas - onde a cicatriz ficou mal posicionada e trouxe prejuízo à anatomia e à funcionalidade do nariz. Neste caso, o paciente relatou que o procedimento também havia sido feito por um dentista, o que não é permitido. 

Algumas pessoas chegam ao consultório envergonhadas de contar onde fizeram os procedimentos e com qual profissional, seja pelo preço mais baixo que ofereciam ou qualquer outro motivo. A alectomia, por exemplo, é um procedimento muito simples, mas que requer aptidão e habilidade do profissional porque o nariz chama muito a atenção no rosto e quando você mexe em uma área, quando você diminui algo, você projeta, leva a atenção para outra área como a ponta do nariz, então experiência e qualificação fazem toda a diferença. Eu gosto de lembrar sempre que a cirurgia plástica visa modificar alguma parte do corpo para sempre”, alerta.

Marques tem outros casos de reconstrução para citar, como uma rinomodelação com resultado artificial, um lip lifting onde o lábio superior ficou curto e a cicatriz larga e aparente e ainda uma blefaroplastia com cicatriz mal posicionada e totalmente fora do local correto, e dá algumas dicas na hora de escolher o profissional: “Em primeiro lugar, cirurgia plástica só deve ser realizada por médico habilitado, nada de clínica de estética ou profissionais conhecidos pela internet ou indicados por influencers. É fundamental procurar saber se o médico é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, buscar referências com outros pacientes e fazer uma consulta de avaliação. Lembrando também que na cirurgia plástica, menos é mais, desconfie de quem topa tudo ou sugere mais e mais procedimentos”, finaliza.