Do mar à terra

Do mar à terra

Por Samara Oliveira*

O papel dos mares no contexto de mudanças climáticas é muito mais relevante do que o imaginado. Ainda que não pareça, eles impactam diretamente na vida cotidiana. Muitas pessoas veem os oceanos como vastas e distantes extensões de água, sem perceber que são fundamentais na regulação do clima da terra mesmo quando ligados à consequências visíveis, como a recente onda de calor que afetou o Brasil entre a primeira e a segunda quinzena de agosto.

Essa alta levou o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) a emitir alertas e, embora o calor extremo possa parecer um problema isolado, ele é na verdade um reflexo das alterações que ocorrem no sistema climático. E isso é influenciado diretamente pelo estado dos oceanos.

Os oceanos absorvem mais de 90% do calor gerado pelo aquecimento global. Essa função de absorção é vital para regular a temperatura da terra, impedindo que o planeta se aqueça de maneira descontrolada. Sem esse mecanismo natural, as temperaturas seriam ainda mais extremas e prejudiciais para os ecossistemas.

A situação é ainda mais alarmante quando consideramos o recente relatório da ONU, divulgado em agosto desse ano, que alerta para a elevação dos níveis do mar, representando graves perigos para diversas regiões do planeta. Entre as áreas vulneráveis, o relatório cita as cidades brasileiras do Rio de Janeiro e Atafona. Desde 1990, essas regiões registraram um acréscimo de 13 centímetros, e a previsão é que a elevação chegue a 16 centímetros até 2050. O dado não apenas destaca os impactos diretos das mudanças climáticas nas regiões costeiras, mas também reforça a urgência de proteger os oceanos, que desempenham um papel fundamental na regulação do clima e na prevenção de catástrofes naturais.

Eles são responsáveis ainda por cerca de 70% do oxigênio que respiramos. A saúde dos mares é diretamente relacionada ao bem-estar dos humanos, tornando a proteção algo substancial para a sobrevivência. E do pouco é que vem o muito. Por mais que mudanças de hábito sútis pareçam não fazer diferença, a adoção de práticas sustentáveis no cotidiano pode ser responsável por, literalmente, preservar a vida na terra.

Uma das ações eficazes é reduzir o uso de plásticos descartáveis, que contribuem significativamente para a poluição. Não é coisa de filme. Sacolas, garrafas e canudos terminam nos oceanos e causam danos extensivos à vida marinha, além de poluírem os recursos hídricos.

A escolha de líderes políticos comprometidos com a proteção ambiental também é importante. Votar em candidatos que entendem a importância da preservação dos oceanos e que promovem práticas eficazes é uma estratégia indireta de garantir o bom andamento do meio ambiente. O voto consciente é uma ferramenta poderosa para assegurar que essas questões sejam priorizadas.

O consumo consciente pode reduzir a pressão sobre os recursos marinhos. Optar por produtos com embalagens recicláveis ou biodegradáveis e apoiar empresas que adotam práticas sustentáveis são maneiras de minimizar o impacto. A participação dos consumidores não para aí. Estar em iniciativas locais, como limpezas de praias e campanhas de preservação, pode contribuir para a saúde oceânica,  ajudando a remover resíduos e fortalecendo a comunidade em torno de causas sustentáveis.

Por fim, a educação é transformadora e no caso das mudanças climáticas não é diferente. Workshops, palestras e cursos sobre sustentabilidade capacitam a tomada de decisões mais informadas. Compartilhar conhecimento sobre a importância dos oceanos e a necessidade de sua proteção é capaz de ampliar o impacto positivo e engajar mais pessoas.

Se o calor acima do normal incomoda, proporciona alergias e mal-estar, o primeiro passo para reverter essa situação é justamente se atentando e protegendo as causas prováveis. Cuidar dos oceanos é uma urgência irremediável. 

(*) Oceanógrafa e gestora comercial e de marketing da Marulho.

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