Os impactos das demandas da Geração Z e Alpha no consumo de eventos culturais

Os impactos das demandas da Geração Z e Alpha no consumo de eventos culturais

Por Luiz Menezes*

As Paralimpíadas 2024 começam nesta quarta (28) e as Olimpíadas ainda se fazem muito presentes, ficando marcadas para sempre como um divisor de águas para alguns criadores de conteúdo. Pela primeira vez, um streamer teve permissão concedida para a fazer a transmissão do evento, além da Rede Globo. Estou falando de Casimiro Miguel, de 30 anos, que é criador da CazéTV, canal no YouTube que já conta com 15 milhões de inscritos.

Casimiro ganhou fama por meio de lives na Twitch, serviço de streaming de vídeo ao vivo, onde fazia cobertura de esportes. Foi seu sucesso que viabilizou a autorização para transmitir a Olimpíada. Até então, a Rede Globo detinha total exclusividade dos jogos, porém, o Comitê Olímpico Internacional (COI) gostaria que o evento tivesse um impacto maior na internet e percebendo que a CazéTV poderia dar esse destaque nas redes sociais, concedeu parte dos direitos digitais da competição.

É claro que para fazer uma transmissão de qualidade, Casimiro investiu na contratação de ex-atletas, influenciadores e até jornalistas que já trabalharam na Globo, como é o caso de Fernanda Gentil. O objetivo era fazer uma cobertura descontraída, mas sem deixar de ser profissional, o que já é característica de muitos criadores de conteúdo na internet, que entendem cada vez mais qual é a linguagem que deve ser utilizada e a demanda das novas gerações por conteúdos informativos, mas ainda com códigos e linguagens do entretenimento.

Além disso, a transmissão da CazéTV contou com dez patrocinadores de peso, que ajudaram e investiram no serviço de Casimiro, como iFood, Havaianas, MercadoLivre, Samsung, Volkswagen, Corona, Esportes da Sorte, Hellmann's, Visa com Banco do Brasil e Vivo. A partir disso, surgem algumas perguntas: o que leva essas grandes empresas a tomarem a decisão de patrocinar transmissões online em canais do Youtube de forma geral? Qual é o impacto futuro? O que ganham com tudo isso?

A resposta é simples: sem contar a visibilidade e o retorno financeiro, as marcas estão cada vez mais preocupadas em conseguirem se conectar com novos públicos e, para isso, precisam estar presentes em espaços digitais, utilizando uma linguagem que vai conversar de verdade com essas pessoas. É por esse motivo que decidem começar a investir em parcerias com influenciadores e plataformas.

Um report realizado pelo YouTube em 2023 aponta que pelo fato da CazéTV utilizar múltiplas plataformas para dar aos fãs o que realmente querem, conseguem conquistar um público cada vez maior, o que eventualmente faz com que quebrem recordes de audiência, como foi o caso da transmissão da Copa do Mundo, onde atingiram cerca de 6 milhões de pessoas assistindo, o que inevitavelmente chama atenção das marcas.

Além disso, vivemos com a constatação de que a Geração Z, pessoas de 13 a 27 anos e que geralmente são o público alvo dessas marcas, tem assistido menos à televisão aberta. Dados do relatório anual da Ofcom de 2024, para o Reino Unido de 2024, mostram que menos da metade (48%) dos jovens assistem TV aberta. No Brasil, dados do Grupo de Mídias de São Paulo apontam queda no número de espectadores para a televisão tradicional, incluindo a Geração Z, Alpha e até mesmo Millennials. 

E você deve estar se perguntando: onde eles assistem os conteúdos então? Tirando as plataformas de streaming, como Netflix, Amazon Prime, HBO Max, Disney+, Globoplay e outros, o YouTube faz sucesso entre a GenZ, principalmente porque democratiza o acesso ao conteúdo, algo proposto pela CazéTV. Inclusive, uma pesquisa da Offerwise com pessoas da Geração Z, revelou que 66% dos entrevistados assistem ao YouTube na TV conectada, compartilhando esses momentos com familiares e amigos. 

No entanto, é importante termos consciência de que apesar da GenZ não estar de fato ligando o aparelho televisor, está consumindo aquele canal da TV por outras mídias. A diferença é: mudou o formato e a linguagem, mas o conteúdo é o mesmo. A lógica é parecida com não acompanhar o BBB pela Globo, mas ver os cortes no streaming, ou direto na rede social. E isso serve para qualquer evento cultural no calendário, como Copa do Mundo, Olimpíadas, entre tantos outros.

Acredito que a internet nunca vai substituir a televisão, principalmente pelo fato do que está sendo exibido na TV é o mesmo que está sendo transmitido em diferentes formatos. E vale ressaltar que no nosso contexto latino de sucesso das novelas, a GenZ tem se interessado cada vez mais pelas produções, porém, assistindo e sabendo do que se trata pelo streaming, por meio da  internet e dos memes. Isso demonstra que as Gerações Z e Alpha estão ressignificando a forma que consomem conteúdos, mas sem deixarem de estar de alguma forma ligadas ao que a televisão aberta ainda repercute.

(*) Fundador da Trope.

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