27ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo: aprendendo outras leituras

O Correio Regional São Paulo te conta tudo como foi a vigésima sétima edição da Bienal do Livro de São Paulo! Prepare as páginas (mas sem deixar orelhas)!

27ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo: aprendendo outras leituras

Por Anderson Wadner, Camilla Sedrez, Guilherme Conde e Paulo Vitor Vieira

São Paulo (SP) - Em dois anos, podem acontecer muitas coisas. E nunca é tarde para aprender a ler. Não é sobre a habilidade da leitura em si. Mas aprender outras leituras.

Durante 10 dias, a Capital Paulista aprendeu a ler através de novas leituras.

Aconteceu, entre 06 e 15 de setembro de 2024, a vigésima sétima edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, a maior e mais importante do país.

Como na última edição, o Correio fez-se presente também! Somos prova de que, em dois anos, muito se pode mudar!

Em 2022, a 26ª edição aconteceu no Expo Center Norte, e o país convidado de honra foi Portugal. Nesta edição, o (repaginado) Distrito Anhembi foi a casa da Bienal, e o país convidado de honra, foi a Colômbia, país natal de um dos maiores escritores do mundo, o também jornalista Gabriel García Márquez, autor dos clássicos "100 anos de solidão" e "Crônicas de uma Morte Anunciada".

Uma das expectativas dessa edição, era a estrutura para comportar os visitantes, pois na edição anterior, somada à saudade dos visitantes devido às restrições sanitárias da pandemia de coronavirus, foi complicado de aproveitar a Bienal em sua totalidade.

Podemos afirmar que o Distrito Anhembi comportou - e muito - bem os visitantes durante os 10 dias da Bienal. A capacidade máxima do pavilhão, é de 60 mil pessoas, e principalmente nos últimos 4 dias de Bienal, acredita-se que foram mais de 300 mil visitantes. A expectativa compreende-se pelo volume de visitantes que utilizavam o transfer gratuito entre a Estação Portuguesa-Tietê da Linha 1 Azul do Metrô, e o Centro de Exposições do Anhembi.

Foram inúmeros destaques da Bienal. No entanto, mesmo com a nossa redação praticamente mobilizada, não foi possível checar o festival literário em sua totalidade.

(Visitantes na Bienal do Livro de São Paulo/Foto: Guilherme Conde)

Dez dias de muito conteúdo, entretenimento, e claro, muitas histórias e páginas. Além de muitos autores. E mesmo assim, com 10 dias de Bienal, não foi possível checar todos os cantos dos três pavilhões (dos cinco, mas apenas três foram utilizados) do Distrito Anhembi.

Calma! Deu tempo de encontrar destaques que valem muito a pena ser contados. Parafraseando muitos prefácios: "apertem os cintos, e boa leitura"!

Uma Bienal Qualquer

Tendência "importada" em eventos culturais do exterior, e assim como teve na edição de 2024 do Anime Friends, na Bienal também teve o "Artists' Alley", ou Beco dos Artistas. No Beco dos Artistas, que era completamente estreito, não era possível passar três pessoas uma do lado da outra.

Nem tudo foram espinhos. Aliás, tivemos uma grata surpresa!

Bem na entrada do Beco dos Artistas, encontramos um dos quadrinistas mais populares da internet brasileira! Carlos Ruas, criador e autor de "Um Sábado Qualquer", conseguiu conversar com o Correio no meio do atendimento aos fãs.

Ruas, que é carioca de nascimento, elogiou muito a Bienal e os fãs que lá estavam, e nos contou uma particularidade: mesmo nascendo em uma cidade que tem praia, Ruas hoje reside no nosso interior, em Águas de São Pedro.

(O quadrinista e criador de "Um Sábado Qualquer" Carlos Ruas/Foto: Guilherme Conde)

Quem já leu "Um Sábado Qualquer", conhece bem o "Boteco dos Deuses" - que é muito engraçado, fortemente recomendamos! - e perguntamos para Carlos sobre a recepção dos leitores que podem ser conservadores, dado o crescimento da extrema-direita no país.

"O bom, é que no "boteco" tem o encontro de todos os deuses, e estudei teologia, então, a recepção é boa dos leitores sim", afirmou Ruas.

Quem ainda não conhece Luci e sua turma, convidamos a conhecer "Um Sábado Qualquer", e claro, agradecemos demais a Carlos Ruas e sua equipe pela paciência de nos atender por cinco minutos e parar a fila de visitantes.

Ainda bem que foi na quinta (12), porque no último final de semana da Bienal (14 e 15/09), já não era possível ver Ruas, nem seu estande, e muito menos entrar no Beco dos Artistas devido ao alto número de visitantes!

Buscando a Verdade Onde Estiver

Não são apenas autores que transmitem suas histórias. Quem publica as histórias, também tem muita história para contar.

Foi assim que conhecemos a trajetória da maior editora sobre cultura mística e pop do país. Celebrando 29 anos na Bienal do Livro de São Paulo, a Madras Editora, cuja matriz fica no bairro de Santana, na Zona Norte de São Paulo (portanto, bem próximo do Distrito Anhembi), abriu suas portas para os repórteres do Correio e tivemos muitas revelações.

Nos desculpem a ironia: revelação é o forte de muitas obras da Madras, que falam muito sobre ocultismo.

Conversamos com Arlete Genari, gerente comercial da Madras que nos contou toda a história da editora que tem praticamente três décadas de existência.

Estabelecida em 11 de setembro de 1995 (na época em que o 11/09, só tinha importância para o Chile antes de ter a importância mundial), a editora foi a realização de Wagner Costa, cujo pai foi livreiro. Costa conseguiu convencer o pai a abrir uma editora, mas não podia ser qualquer editora. Teria que ser uma editora com uma linguagem especial.

Após uma viagem à Índia, Wagner decidiu que o nome da editoria seria Madras, que é a sexta cidade mais populosa do país asiático e capital do estado de Tamil Nadu. Calma! O atual nome da cidade é Chennai, mas antigamente era chamada de Madras.

E, como tudo que envolve a Índia, com religiosidade, sincretismo, ocultismo, Costa decidiu ser pioneiro no Brasil e transformar tudo isso em uma editora. Tanto que, a Madras é a maior editora com obras sobre maçonaria em língua portuguesa, sendo referência até no Reino Unido. A editora paulistana também, é a maior editora com obras sobre umbanda, com 54 títulos, graças à Rubens Saraceni (1951-2015), líder espiritual que publicou o primeiro livro sobre a religião afro-brasileira na editora.

(Da esq. para a dir.: A gerente comercial Arlete Genari, a presidente Sonia Veneziani e a escritora Barbara Veneziani/Foto: Anderson Wadner e Guilherme Conde)

A Madras é só maçonaria e umbanda? Não, pelo contrário! Desde o início dos anos 2000, a editora também se destaca com obras sobre filosofia popular e música, com títulos sobre grandes conjuntos, como The Beatles, Led Zeppelin, Guns’n’Roses, Sex Pistols, entre outros.

Publique-Se

Toda edição tem alguma novidade do mercado editorial, para atrair mais escritores, ou aspirantes a escritores. Uma das grandes novidades desta edição da Bienal, foi a plataforma paulistana Uiclap.

Antes de explicar mais sobre a plataforma, foi como organizaram seu estande. Durante os dez dias de Bienal, escritores que publicaram através da plataforma exibiam suas obras e conversavam com os visitantes.

(As escritoras mineiras Adriana Figueiredo e Andréa Carrusca/Foto: Guilherme Conde)

Quando visitamos a Uiclap, conversamos com as escritoras Adriana Figueiredo e Andréa Carrusca, de Belo Horizonte, que disseram ao Correio a importância da plataforma para a publicação de suas obras.

Certo, e como funciona a Uiclap? Basta você fazer o upload (subir) o arquivo do livro já formatado de acordo com padrões da própria Câmara Brasileira do Livro, também escolher a capa - você ter pode pronta, ou pedir para alguém fazer - e por fim, escolher o tipo de papel das páginas e formato da capa (com ou sem orelhas).

Se os arquivos (do livro e da capa) estiverem de acordo com a plataforma, você também terá que definir o quanto você pode receber pela venda de cada exemplar e voilà, você pode ter seu livro publicado e à venda dentro do próprio marketplace (comércio eletrônico) da plataforma sem nenhum custo!

Você pode entender mais sobre a plataforma na conversa que tivemos com Tiago Martini, do time de marketing da Uiclap. Confira!

Vamos Todos Cirandar

Ao olharmos clássicos em quadrinhos, descobrimos o selo Principis. E, ao descobrir o selo, descobrimos que o selo pertence ao Grupo Ciranda Cultural, um dos maiores grupos editoriais do Brasil.

Conversamos com Aline Aguiar, coordenadora de marketing do grupo editorial cuja matriz fica em Jandira, na região metropolitana de São Paulo, sobre a atuação da Ciranda Cultural, que começou a ficar mais conhecida através das lojas e espaços (feiras) que ocuparam - e ocupam - diversos shoppings da Capital Paulista.

(A coordenadora de marketing do Grupo Ciranda Editorial Aline Aguiar/Foto: Camilla Sedrez e Guilherme Conde)

Na Bienal, o grupo lançou outro selo, a Trend Editora, voltada para desenvolvimento pessoal, e teve muito movimento no espaço do selo Mood, voltado ao público infanto-juvenil feminino, com participação de autoras fantasiadas.

Viajando em 10 anos com um Diário bem especial

Nosso último destaque da Bienal, foi conhecer o "Diários de Viagem". Falamos muito de histórias, e como não pode ser diferente, essa história vem de família.

Começou com o pai Eduardo Mattos, que era bancário e professor, descobriu em uma visita a um museu, os cadernos de anotações de antigos exploradores e também de povos africanos do século XVI e XVIII.

Encantado, começou a montar e a fabricar agendas e cadernos especiais feitos à mão baseado no que descobrira em sua visita cultural na - conhecida - Feira de Artesanatos de Embu das Artes, região metropolitana de São Paulo.

Hoje, Eduardo passou os processos de montagem e a gerência do "Diários" para o filho Henrique, e nesta edição da Bienal, celebraram 10 anos da primeira atuação como expositores no festival cultural.

(O criador dos "Diários de Viagem" Eduardo Mattos/Foto: Guilherme Conde)

Não precisamos dizer que nossa conversa foi interrompida diversas vezes por visitantes curiosos e, com certo desespero, para adquirir algum dos diários expostos pela família Mattos (e por Victor, amigo de Henrique).

Convidamos a todos os leitores a conhecer os "Diários", não somente para ter na sua mesa, mas principalmente, presentear.

E se for viajar, leve um "Diário". Você vai precisar!

Balanço

De acordo com a organização oficial, foram mais de 722 mil visitantes. A impressão foi de muito mais. Durante os dez dias de Bienal, o Terminal Rodoviário do Tietê estava fora do próprio terminal. Quem optou pelo transfer gratuito da estação Portuguesa-Tietê até o Distrito Anhembi e vice-versa sabe muito bem o que estamos a dizer!

Em comparação à edição anterior, teve um aumento de quase 10% dos visitantes, e de mais de 80% de faturamento médio diário.

(Estande das editoras Arqueiro e Sextante no último dia da Bienal do Livro de São Paulo/Foto: Camilla Sedrez e Guilherme Conde)

A escritora italiana Ali Hazelwood (que na verdade é um pseudônimo, não se sabe o nome verdadeiro dela) teve três de seus livros mais vendidos na editora Arqueiro, cujo estande amplia ainda mais a impressão de que, certamente, houve um milhão de visitantes em toda a Bienal, embora o Distrito Anhembi tem capacidade máxima de 60 mil pessoas nos três pavilhões do Distrito onde ocorreu a Bienal.

Embora as outras grandes editoras tiveram movimentações, a Cortez Editora teve crescimento (4%), mas não atingiu as expectativas comerciais. Com obras voltadas à educação, inclusive com obra do filósofo, professor e ex-secretário municipal de educação de São Paulo Mario Sergio Cortella, a editora que também tem matriz no bairro das Perdizes, Zona Oeste da Capital Paulista teve na Bienal, o lançamento do “Manual Prático de Educação Antirracista”, de Allan Pervirguladez.

Segundo Elaine Nunes, diretora comercial e de marketing da Cortez Editora, “As vendas não atingiram nossa expectativa de 20%. Sentimos a falta do público universitário no evento, enquanto o público mais jovem aumentou bastante”. Falando ainda sobre o público jovem, Nunes ainda explica: “O público juvenil é muito intenso e vibrante, são leitores apaixonados por livros e isso, agregado à algumas editoras que fizeram ação nos estandes com brindes, acabou gerando muito congestionamento nos corredores, o que dificultou a circulação até o estande da Cortez”.

No entanto, a executiva pontuou a emoção sobre a função do livro para os visitantes da Bienal: “Ter e ver os livros como protagonista para todas as faixas etárias, é, sem dúvida, a realização e o objetivo do mercado editorial”.

Estivemos pela segunda vez na Bienal de São Paulo. Mas existem outras grandes Bienais pelo Brasil, certo?

Acompanhe o Correio em 2025. Podemos ter surpresas!

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