Bruno Kim: "É bonito você se dar bem com os vizinhos!"

Durante o Festival da Cultura Coreana, o Correio conversou com o presidente da Associação Brasileira dos Coreanos Bruno Kim. Confira como foi a conversa!

Bruno Kim: "É bonito você se dar bem com os vizinhos!"

Por Guilherme Conde e Paulo Vitor Vieira

Você pode acompanhar como foi o Festival da Cultura Coreana em 2024. "Como manda a tradição", conversamos com o representante da organização, no caso, a Associação Brasileira dos Coreanos.

Em 2023, conversamos com o advogado Augusto Kwon. Neste ano, conversamos com o atual presidente, Bruno Kim, que fora eleito para o biênio 2024-2025.

Saiba mais nesta conversa que nos convida a refletir:

Correio Regional São Paulo - A imigração coreana completa 61 anos em 2024. Como você enxerga o interesse dos brasileiros pela Coreia?

Bruno Kim: É com muita alegria ter essa sensação de pertencimento! Eu cheguei no Brasil em 1981, e as pessoas nem sabiam o que eram Coreia, e de repente, de uma certa maneira, você passa a ser querido! É uma sensação muito boa, e faz com que a gente se esforce ainda mais para fazer com que esse evento passe a ser algo significativo para a comunidade coreana que vive na cidade de São Paulo.

Correio Regional São Paulo - Neste ano, tivemos apresentações artísticas de outras culturas, como a boliviana, judaica e paraguaia. Como é essa integração dessas comunidades que também vivem no Bom Retiro?

Bruno Kim: O Bom Retiro não só a casa dos coreanos. É a casa dos bolivianos, dos paraguaios, dos judeus, e outros grupos (étnicos) menores que também vivem aqui. Já foi casa dos gregos, dos italianos... Se a gente quer fazer uma festa para mostrar o bairro, nada mais justo mostrar nossos amigos, nossos vizinhos, e todos nós, somos uma certa minoria no Brasil, as minorias étnicas. É mostrar para o brasileiro que o Bom Retiro é um bairro multicultural, que nós convivemos bem com os nossos vizinhos. Quando convidamos, ficaram felizes, fizeram as apresentações deles com muita alegria, e pra gente, é uma felicidade muito grande, de mostrar às pessoas, de que é bonito você se dar bem com os vizinhos, amigos, com as pessoas que moram junto no mesmo bairro.

Correio Regional São Paulo - O Sr. falou sobre sensação de pertencimento, pois está aqui desde 1981. Nasceu na Coreia mesmo, certo?

Bruno Kim: Isso!

Correio Regional São Paulo - Em Seul?

Bruno Kim: Isso, em Seul! Eu cheguei aqui com sete anos, sou da geração que chamam de "1.5", uma geração que nem nasceu no Brasil, e nem nasceu na Coreia. É engraçado isso, porque você, de uma certa maneira, é uma pessoa dentro de casa, e fora de casa, você é outra. Os amigos brasileiros não imaginam de mim, um comportamento coreano. Até porque temos mais influência japonesa, eles já estão na nona geração. Isso faz com que as pessoas esperam que você fale português, se comporte como "brasileiro". É uma perna em cada cultura, é algo bem interessante!

Correio Regional São Paulo - Qual é a cultura que está mais adaptado, a coreana ou a brasileira?

Bruno Kim: Antigamente, eu brigava muito pra colocar porcentagem: "eu sou 30% brasileiro, 70% coreano", aí mudava, "60% brasileiro, 40% coreano"... Hoje, eu vejo que é uma bênção muito grande você poder compreender a cultura brasileira e a cultura coreana, e ser 100% dos dois, por quê não? É uma grande bênção, eu entendo assim.

Correio Regional São Paulo - Recentemente, um filme coreano venceu o Oscar (Parasita, em 2020), e também há o conjunto BTS que faz sucesso internacional. Como coreano, como enxerga o impacto da cultura coreana ao redor do mundo?

Bruno Kim: É uma loucura! O que eu fiz para que as pessoas gostassem de mim? Nada! Quem fez o Psy, o BTS! E o BTS, a 1ª vez que eles vieram ao Brasil, em 2015, eles adoram dizer que "o Brasil deu sorte"! Sabe onde eles treinaram para fazer o show deles na primeira passagem deles?

Correio Regional São Paulo - Não, onde foi?

Bruno Kim: Aqui na Rua Lubavitch*!

Correio Regional São Paulo - Na Lubavitch?

Bruno Kim: É, na Lubavitch! Para você ver, como é legal um grupo humilde, eles eram humildes e vieram pra cá, e (não posso falar isso, mas) eles estavam distribuindo ingressos na porta! E hoje, eles são o que são! Em 2019, no Allianz Parque, foram 90 mil ingressos, completamente esgotado em algumas horas, e tinha gente acampando na porta do estádio por dois meses! E hoje, não há dinheiro que pague para eles virem, porque são caríssimos agora, mas eles tem um carinho gigantesco pelo Brasil, isso é bonito, né? É legal ver essa reciprocidade entre Brasil e Coreia, os brasileiros gostando da Coreia, e os coreanos gostando do Brasil.

Correio Regional São Paulo - Como o Brasil é visto na Coreia?

Bruno Kim: O Brasil é visto como são vistos outros países estrangeiros, talvez, a gente não consegue mostrar tão bem o que o governo coreano faz, as coisas bonitas do Brasil. Eu vejo isso, talvez a gente poderia aprender com os coreanos, e coisas que o coreano poder aprender com os brasileiros.

Correio Regional São Paulo -  Por exemplo?

Bruno Kim: Levar a vida de uma maneira um pouco mais tranquila, fazer um churrasco com os amigos sem hora pra acabar. Talvez, não se preocupar tanto com horário. Se atrasar um minuto, talvez não seja de tudo ruim, só não pode atrasar uma hora! (risos) Se a gente pudesse misturar as duas culturas, iria sair um país belíssimo!

Correio Regional São Paulo - E o pós-festival?

Bruno Kim: Esse aqui é o décimo sétimo evento. A gente sente que, aprendemos cada vez mais, e faz um evento melhor. Certamente, ano que vem, vamos fazer melhor ainda, assim como a gente acha que esse evento teve mais acertos que o passado. Isso é natural, né? Vamos aprendendo com os erros e com os acertos, e o que queremos, é que as pessoas saiam daqui felizes, com uma boa impressão da comunidade coreana, uma boa impressão do Bom Retiro, e que no ano que vem, a gente possa fazer um evento bacana, com todo mundo com vontade de voltar com mais amigos ainda!

(*) A Rua Lubavitch é uma travessa da Rua Três Rios, uma conhecida via do Bom Retiro, que fica praticamente em frente à Oficina Cultural Oswald de Andrade. Com o antigo nome de "Rua Corrêa dos Santos", a rua fora renomeada no início dos anos 90 em homenagem a um importante movimento religioso judaico, chamado Chabad-Lubavitch, liderado pelo Rabino Menachem Mendel Schneerson (1902-1994).

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