Especial Grandes Festas - Rabino Doutor Alexandre Leone: "Que em 5785, os amores possam se reencontrar!"

Feliz Ano Novo? Calma! A comunidade judaica celebra a chegada de 5785, e o Correio buscou saber os significados dessas datas, que são tão importantes para mais de 14 milhões de fiéis no mundo todo! Confira!

Especial Grandes Festas - Rabino Doutor Alexandre Leone: "Que em 5785, os amores possam se reencontrar!"

Por Guilherme Conde

Neste início de outubro, a Comunidade Judaica celebra o início do ano de 5785. Caso não saibam, a cidade de São Paulo concentra uma das três maiores comunidades judaicas das Américas, junto com Nova York (EUA) e Buenos Aires, capital da República Argentina.

A coletividade israelita sempre fez-se presente na história da cidade e do estado de São Paulo. E, aproveitando a celebração, o Correio procurou saber mais de todos os significados que estão ao redor das principais datas da religião originária do Oriente Médio, a primeira monoteísta (que professa fé em um só Deus) da humanidade.

Tivemos uma doce conversa com o Rabino Doutor Alexandre Leone, da Sinagoga Beit Midrash Massoret na Vila Madalena, Zona Oeste de São Paulo, que gentilmente atendeu o Correio e nos explicou o significado das datas, e também, sobre o que acontece no Oriente Médio há um ano atrás.

Perguntamos ao Rabino Leone também se é seguro para um cidadão judeu andar por São Paulo. Será que é?

Embarque nessa com a gente!

(Rabino Doutor Alexandre Leone, da Beit Midrash Massoret/Foto: Guilherme Conde)

Começamos questionando sobre a lógica da ordem entre as datas. Iniciando pelo Ano Novo (Rosh Hashaná), o Dia do Perdão (Yom Kippur), a Festa das Cabanas (Succot) e a Alegria da Torá (Simchá Torá). Antes, assim como ao longo desta reportagem, vamos explicar alguns termos para você conhecer e não se perder.

Rosh, em hebraico, significa "cabeça", e é um termo muito utilizado em outros significados não somente religiosos. Igual no inglês, quando usamos "head" para designar liderança de alguma área. Shaná, é ano. Yom, é dia. Kippur, significa expiação.

Entre os meses de Elul de 5784 e Tishrei de 5785 (outubro de 2024), o Rosh Hashaná comemora-se entre a noite desta quarta (29 de Elul, 02/10) até a noite de quinta (Primeiro de Tishrei, 03/10), e o Yom Kippur, observa-se entre a noite de sexta (9 de Tishrei, 11/10) até a noite de sábado (10 de Tishrei, 12/10), que também é feriado no Brasil.

De acordo com o Rabino Leone, a ordem das datas remete ao capítulo 23 de Levítico e no capítulo 29 de Números, livros que compõe tanto a bíblia cristã, como a Torá (ou Lei de Moisés), o principal livro das Escrituras Judaicas.

"Começa falando sobre o primeiro dia do sétimo mês, quando se toca o teruá, um toque do shofar (chifre de carneiro), depois se fala do décimo dia, que é Yom Hakipurim, e depois se fala, cinco dias depois, é Sucot, que dura sete dias, e tem Shemini Atzéret, que no período rabínico fica junto à Simchá Torá.

Esta sequência, é como aparecem as festas no texto bíblico. No entanto, se você notar, no texto bíblico, não chama o primeiro dia do sétimo mês de Rosh Hashaná! Os judeus caraítas - ou samaritanos - celebram o dia, tocam o shofar, mas não celebram como Rosh Hashaná, celebram como o primeiro dia do sétimo mês, mas não o primeiro dia do ano.

A ideia da celebração de Rosh Hashaná é estabelecida entre os rabinos. Na Mishná de Rosh Hashaná, fala-se de quatro dias de celebração de Rosh Hashaná. O primeiro dia do primeiro mês, como a gente sabe, é o calendário litúrgico e tem um outro Rosh Hashaná, em uma outra data (Primeiro de Elul), para o dízimo do gado. Detalhe: não é o dízimo para engordar o gado, é para redistribuição social, é outra coisa.

Depois, o primeiro dia do sétimo mês, é o Rosh Hashaná da contagem das eras, dos demais anos, e dos anos do jubileu. Na tradição rabínica, aparece como a contagem desde a criação, ainda que o Talmud (Torá Oral) mesmo não diga qual foi o ano da criação. A atual contagem - 5784, 85 - é medieval, depois que foi estabelecida essa ideia. Não era literal na época, e hoje em dia, vemos como folclore. O mundo é muito mais antigo, o ser humano é muito mais antigo. É um folclore contar que o mundo tem 5784 anos".

Perguntamos se o calendário judaico não é preciso desde a criação do mundo, afinal, é nisso em que se, supostamente baseia a diferença entre os calendários gregoriano e judaico.

"Isso aparece mais tarde, por exemplo, como se datava um Guet (divórcio), e no próprio Talmud, se datavam coisas de diferentes formas civis, e resolvem fazer uma datação desde a criação do mundo. Provavelmente, daí nasceu a necessidade e foi estabelecido que o mundo teria 5784 anos. Mas na própria Idade Média, falavam que o mundo era eterno, ou seja, a noção de Deus criar o mundo desde a eternidade, ou por exemplo, você tinha um cabalista, Yitzchak (Isaac), O Cego, que datou o mundo com bilhões de anos.

Então sim, existiam outros rabinos medievais que pensavam em outras idades. Mas, pela ciência, sabemos que são muitos bilhões de anos, desde a formação da terra e os primeiros hominídeos.

O (telescópio) James Webb, mostrou que a Terra tem 13 bilhões e 800 milhões de anos, mas perceberam que pode ser ainda mais. Pode-se voltar a ideia de dizer que o universo seja eterno. 

Portanto, essa datação não pode ser vista como literal, mas sim, uma tradição de como eram datados os documentos na Idade Média, e assim continua. Para os rabinos surge - na época do Segundo Templo (de Jerusalém) - a ideia de que nesse dia, o ser humano foi criado. Na verdade, dizem que Rosh Hashaná é o dia da criação do ser humano, que também não tem somente 5784 anos.

Essa ideia gerou no pensamento rabínico o seguinte: "se é o aniversário da criação, é o aniversário de Deus como Rei dos seres humanos", então ele vai julgar cada um, assim como um pastor que decide o destino de cada ovelha. Deus vai julgar dois aspectos: ações e intenções. Principalmente nas relações inter humanas, aquilo que chamamos no campo ético. Os nossos deveres para com as pessoas e a falta que fazemos para as pessoas.

Então, em Rosh Hashaná não se trata de resoluções de ano novo, por exemplo, "vou parar de fumar". Não é exatamente isso! A principal questão de Rosh Hashaná e de Yom Kippur, é sobre as faltas que fazemos para outras pessoas. À Deus com certeza, mas para com outras pessoas, é uma questão muito forte. Daí nasceu a ideia do dia do julgamento em Rosh Hashaná.

Lembrando que: os caraítas vão te dizer outra coisa! 

Mas por quê tocamos o shofar? Para invocar a ideia de compaixão. Deus pode ser justo ou misericordioso? Se Ele for justo, ninguém passa de ano, mas se Ele for misericordioso, se dá um jeitinho! Então, para invocar a compaixão, se toca o shofar, que segundo a tradição rabínica, remete-se ao sacrifício de Yitzchak (Isaac), que Abraão (Avraham) encontra um carneiro e sacrifica no lugar de seu filho.

Por quê? Se a leitura diz sobre um ato meritório de Abraão e da Compaixão Divina de Abraão para com Isaac, e que essa compaixão venha a nós também! Então, a gente toca o shofar para lembrar a compaixão! Mas não é para lembrar apenas que Deus dá compaixão, para que Deus seja mais misericordioso com a gente, mais misericordioso do que justo. A palavra Rachamim (misericórdia), em hebraico, tem a mesma raiz de rechem (útero), ao pé de letra, é "sentimento uterino", ou seja, a gente quer que Deus seja mãe, mais Mãe do que Pai, mais 'boazinha'. Mesmo a mãe da pior pessoa, vai achar alguma coisa boa daquele cara! Isso posto, não se pode ficar pensando em primeira pessoa, por exemplo, "ah, escuto o shofar para que Deus seja compassivo comigo", não é isso! É um ensinamento! O ser humano que manifesta, através de si, o divino na forma humana. 

Então, Deus não pode fazer justiça através dos leões! Deus não pode fazer a compaixão através da natureza, isso são outras coisas, mas Deus pode fazer tudo isso através de nós! Conforme diz o filósofo Emmanuel Levinas: "Os atributos de Deus não são dados no indicativo, 'Deus é'. Os atributos são dados no imperativo: nós devemos fazer!", por exemplo: 'Deus veste os nus'. Significa: vista os nus! 'Deus visita os doentes'. Significa: visite os doentes!

A gente invoca a Compaixão Divina para invocar em nós, olhar as pessoas mais com compaixão, do que com a justiça escrita. Um balanço, da compaixão e da justiça. Aí está a ideia do Rosh Hashaná, nesse dia do julgamento, a gente é julgado pelos outros, e julga os outros.

Já sobre o Yom Kipur, que é o Dia do Perdão, tem uma passagem sobre Rosh Hashaná no Talmud, que diz: "Rabino Kruspedai dizia: em Rosh Hashaná, são abertos três livros: um para os justos perfeitos, um para os malvados perfeitos e um para os intermediários". Os intermediários, somos nós! Podemos estar no Livro da Vida, ou no Livro da Morte. Só que, a gente pode mudar o destino. É a ideia dos Asseret Yemê Teshuvá, os 10 dias que você pode mudar o seu rumo (retorno). Porque o julgamento foi feito em Rosh Hashaná, e só vai ser selado em Yom Kippur, então, você vai ter tempo de mudar!

Mas, Rosh Hashaná, é o nascimento da humanidade: cada vez que alguém nasce, é Rosh Hashaná, e o Yom Kippur, é a morte. Portanto, Asseret Yemê Teshuvá, é a vida! É o período em que estamos aqui, vivos! Asseret Yemê Teshuvá é a ideia de que, durante a vida, podemos mudar nosso rumo, nosso destino. Mas veja, esta compreensão, é rabínica. Porque o dia de Rosh Hashaná ser o nascimento da humanidade remete-se à época do Segundo Templo, mas ficou ainda mais na tradição rabínica. Em outras formas da religião israelita - como a samaritana - vão te dar outras explicações, é uma experiência diferente.

Só que, Deus, é como a escola, ou faculdade: se não passar na prova, faz a substituta, se não for bem, faz a recuperação, e se mesmo assim não for bem, tem dependência. Apesar do último momento ser Yom Kippur, e o último serviço representa o "fechamento dos portões", na verdade, você tem até o último dia de Sucot (Hoshaná Rabá), ou seja, enquanto há vida, há esperança! A ideia é: a esperança que a pessoa caia em si e mude seu modo de tratar as outras pessoas, de tratar a relação com Deus, na verdade".

O livro de rezas diárias no judaísmo chama-se "Sidur". Perguntamos ao Rabino, o porquê do motivo de, em Rosh Hashaná e em Yom Kippur, o livro de rezas se chamar "Machzor".

"Em Rosh Hashaná e em Yom Kippur, tem tantas coisas litúrgicas particulares, que não caberiam nem mesmo dentro de um Sidur completo. É um livro de rezas, é o Sidur, mas se chama Machzor em determinadas ocasiões. Existem Machzorim (plural de Machzor) em outras festas também, mas é menos comum. O Machzor de Rosh Hashaná e de Yom Kippur, é o Sidur enriquecido de um monte de cantos, de rezas, porque é um serviço que, ao longo do séculos, foi ficando mais 'recheado'".

Como a Festa das Cabanas (Succot) fica próximo do Ano Novo e do Dia do Perdão, perguntamos ao Rabino Leone, se Sucot pertence ao que o judaísmo chama de "Grandes Festas", ou como os judeus nos Estados Unidos chamam de "High Holidays".

Engana-se quem pensa que é tudo a mesma coisa!

"Succot não pertence às Grandes Festas. Grandes Festas são Rosh Hashaná e Yom Kippur. Sucot é Yamim Noraim (Dias Terríveis), que começa no primeiro dia de Elul. Passa Rosh Hashaná, passa Yom Kippur, e termina no último dia de Succot. Simchá Torá já está fora de Yamim Noraim. São dois ciclos que se encontram: o ciclo dos Regalim - Pessach (Páscoa), Shavuot (Festa das Semanas), Succot e Shemini Atzeret - e o ciclo dos Yamim Noraim, que de alguma forma, se encontram em Succot, que está dentro de um ciclo e dentro do outro".

Desejar "Feliz Ano Novo" em outubro, pode parecer estranho para a grande maioria. Como é dentro da Comunidade Judaica? O Rabino responde:

"Outro calendário, é outro calendário. Se você fosse chinês, você iria celebrar o ano novo chinês da mesma forma! Porque dentro da cultura chinesa, isso faria sentido. O fato é que, há uma clara ligação entre religião e cosmologia, contagem do tempo, e essas coisas todas. Uma pessoa judia, assim como uma pessoa budista, um muçulmano, termina vivendo no Brasil com duas matrizes culturais distintas: a brasileira, que conta o tempo segundo o ano civil, e a judaica, que conta o tempo do seu jeito. Se fosse chinês, seria a mesma coisa! Simplesmente porque, as pessoas, muitas vezes - nem todo mundo - vivem sob multiculturalidades".

A expressão religiosa mais importante do judaísmo, é a frase: "Shemá Yisrael, Adonai Elohênu, Adonai Echad!" (Ouve Israel, o Eterno é o Nosso Deus, o Eterno É Um Só!". Tal expressão é acompanhada por uma outra que, durante o ano inteiro, se fala em voz (muito) baixa, e somente no Dia do Perdão, se fala essa expressão em voz alta.

Perguntamos ao Rabino qual é o motivo disso:

"A expressão Baruch Shem Kevod Malchuto Leolam Vaed (Bendito Seja o Nome de Seu glorioso reino para todo o sempre) não está na Torá. É uma tradição rabínica de, depois do 'Shemá' falar essa frase. Como ela não está no texto bíblico, ela, na verdade é sussurrada, e somente em Yom Kippur, se fala em voz alta. Por quê? No Templo (de Jerusalém), o Sumo-Sacerdote (Cohen Gadol) falava o nome de Deus, e não falava 'Adonai', 'Hashem', mas O Nome, como ele não deveria ser pronunciado, as pessoas falavam: Baruch Shem Kevod Malchuto Leolam Vaed, porque as pessoas ficavam com um grande temor por ter escutado O Nome. Então, começou essa tradição, apesar de hoje em dia, O Nome não é pronunciado e nem sabido".

Por quê?

"As letras hebraicas Yud-Hei-Vav-Hei, são pronunciadas pelos nomes que aí estão, 'Adonai', 'Hashem', 'Elohim' (dependendo da passagem). São palavras outras, como 'Senhor', 'Deus', e por aí vai, ou é dito 'Hashem', O Nome. Mas como exatamente era pronunciado, isso, provavelmente se perdeu".

Dentro do judaísmo, há várias linhas culturais e de observação. As mais conhecidas são: Ashkenazi (oriundos da Europa Oriental), Sefaradi (oriundos da Península Ibérica e Norte da África) e Haredi (ortodoxa). Perguntamos ao Rabino sobre a diferenciação das linhas religiosas:

"As melodias, certos hinos que um tem, o outro não tem. As liturgias foram aparecendo em paralelo. Há sim diferenças, mas o corpo da liturgia, é um só. Mas há diferentes musicalidades, às vezes, um tem uma oração que o outro não tem, uma passagem que o outro não tem, só que o básico, é o mesmo! 90% é igual! As características diferenciam os rituais nesses meios, mas o básico dos rituais é reconhecido pelo judaísmo rabínico".

Ainda sobre linhas religiosas, no judaísmo existem correntes que tem um jeito de se observar a fé, assim como no cristianismo que, após a Reforma Protestante, surgiram inúmeras denominações e correntes. No judaísmo, a mais conhecida, é a ortodoxa (Haredi), mas também existem as correntes liberal e reformista.

Perguntamos ao Rabino como essas correntes são vistas na Comunidade Judaica paulistana:

"Depende de quem está vendo! Em São Paulo, você tem ortodoxias, que é mais forte, você tem ortodoxias não-haredi, outros, mais em sinagogas de bairro. Aí você tem sinagogas Masorti, que é o campo central, não é nem liberal e nem ortodoxa - que é a minha corrente - e tem sinagogas que se colocam no campo liberal, e existem judeus que não acreditam em Deus e tampouco vão à sinagoga. É a multiplicidade que o judaísmo tem no mundo, e em São Paulo, não é diferente. Às vezes, tem alguma corrente em algum lugar do mundo, que aqui em São Paulo não tem. É uma comunidade menor em outros lugares".

Aproveitamos para questionar se a sinagoga do Rabino Leone é mais plural (que aceitam vários pontos de vista religiosos), ou mais restrita (aceitam apenas um determinado ponto de vista religioso):

"É uma sinagoga que faz o serviço tradicional ortodoxo, do campo Masorti, que é ligada à Federação Israelita do Estado de São Paulo (FISESP) e politicamente é uma sinagoga progressista. Se você pegar duas comunidades do mesmo movimento, sendo ortodoxa, ou seja lá qual for, você vai ter diferenças, porque são grupos diferentes com características individuais. Usamos um Sidur ortodoxo, mas a gente modifica algumas coisas do Sidur, falamos das Matriarcas, por exemplo".

Há praticamente um ano, o grupo extremista Hamas cometeu um dos maiores ataques terroristas da história, invadindo o sul de Israel, cometendo assassinatos e sequestros (ainda existem reféns). Israel contra-atacou e até agora ocupa a Faixa de Gaza. Devido ao nível de força neste contra-ataque, cresceu ainda mais a animosidade para com os judeus no mundo inteiro. Questionamos o Rabino Leone sobre o assunto dentro da Comunidade Judaica paulistana:

"As pessoas combatem o antissemitismo quando cresce, elas denunciam. Mas não se deve confundir anti-sionismo com antissemitismo. Há manifestações que são diretamente antissemitas (contra os judeus), mas que não se referem à Israel, e outras que são anti-sionistas (contra o Estado de Israel), que não se referem ao antissemitismo, e existem manifestações antissemitas e anti-sionistas, porque é essa a situação. É um momento de crise, porque onde acontece o conflito, existe uma população judaica enorme, e por aqui há pessoas com parentes e amigos por lá (Israel), e isso tensiona as pessoas. Dentro da comunidade, há diferentes posições e respostas em relação a isso. Há posições mais à direita, há posições mais à esquerda ao que está acontecendo em Israel, e a como responder na sociedade".

Ainda sobre política, perguntamos ao Rabino, se existe um risco de Israel se tornar um país teocrático (um país que segue leis religiosas em vez das leis civis):

"Não. Israel se tornaria um país teocrático, se os fundamentalistas - que já tem muito poder - passarem a ter ainda mais poder e passarem leis nesse sentido. Hoje em dia, se você for ver na sociedade israelense, ela tem essa tensão dentro dela. Um setor, mais fundamentalista e um setor mais secularista, que resiste a isso. Para que aconteça, o setor secularista teria que recuar mais".

Enfim, é seguro para um judeu andar em São Paulo? Preste bem atenção na resposta do Rabino Doutor Alexandre Leone:

"Acho mais seguro para um judeu viver em São Paulo, do que em muitos lugares na Europa ou mesmo nos Estados Unidos, aonde os níveis de segurança são bem mais baixos do que aqui! Por quê? Lá tiveram situações de ataques à entidades, como teve em Buenos Aires (AMIA, 1994), e aqui, felizmente, nunca ocorreu algo daquele nível. A resposta é complexa! Diria que é mais seguro do que muito lugar. Aparentemente, as questões de insegurança da cidade de São Paulo, são outras. Referente a outras questões que a sociedade brasileira tem. Mas tem antissemitismo, assim como tem outros tipos de preconceito".

Por fim, quais são os desejos do Rabino para o Ano Novo que se inicia (5785)?

"Espero que todo mundo tenha um ano bom e doce! Espero que a gente possa ter muita saúde, espero que as pessoas tenham muito amor, que os amores se reencontrem! Que seja algo muito positivo, seja algo para o bem! Espero que esses problemas no Oriente Médio e na Ucrânia, se resolvam, que o mundo possa encontrar um caminho para resolver o aquecimento global. Se não resolver agora, mas que comece a se resolver. Espero que a gente tenha mais democracia, que a economia sempre melhore! Para todo mundo ficar bem (risos), e espero que Deus escute nossas orações e que o amor se realize!".

Depois de encerrar a entrevista e deixar o local onde aconteceu, rapidamente olhei para a frente e observei o prédio da Unibes Cultural. Para quem não conhece a Unibes Cultural, ou não seja da Capital, o prédio da Unibes Cultural foi construído com o nome de "Centro da Cultura Judaica" no início dos anos 2000, e o prédio tem o formato de uma Torá aberta.

Para quem acredita, um ótimo sinal para um novo ano cheio de esperança e alegria!

Shaná Tová Umetuká, um ano bom e doce pra gente!

Ajude o Correio a continuar e a melhorar: Apoia.Se | Catarse | Benfeitoria | Vakinha