Análise sobre os dados do CAGED

Na semana passada, foram divulgados dados sobre a melhora do emprego no Brasil; Analistas comentam sobre esses dados, saiba mais!

Análise sobre os dados do CAGED

O mercado de trabalho no Brasil está aquecido. Dados do CAGED divulgados na semana passada, mostram a boa situação econômica que o país atravessa.

Acompanhem análises especializadas sobre os dados!

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos:

Os dados do mercado de trabalho no Brasil têm surpreendido positivamente desde o ano passado, e nossa expectativa é de que a taxa de desemprego melhore ainda mais ao longo do segundo semestre. Vale destacar que os números mais recentes são de agosto, e, para o último trimestre do ano, é comum observar um aumento nas vagas temporárias, seja em vendas de Natal, seja na produção de itens sazonais, como o chocotone. Esse impulso costuma reduzir a taxa de desemprego, que, em nossa estimativa aqui da RB Investimentos, pode chegar a 6%.

Sobre o CAGED, ele costuma refletir a predominância do setor de serviços na criação de empregos, já que é o setor que mais emprega, seguido pela indústria e o comércio. No entanto, um dado menos positivo foi o salário médio real de admissão, que ficou um pouco abaixo do registrado em julho, na comparação anual. Apesar disso, o crescimento é de 1,8%, o que, embora modesto, representa um ganho real acima da inflação. Isso é sempre um sinal positivo, pois indica que as vagas estão sendo criadas com melhores condições e os trabalhadores estão sendo contratados com salários mais altos.

Esse cenário contrasta com o período da pandemia, entre 2021 e 2022, quando a taxa de desemprego também caía, mas as contratações muitas vezes eram feitas com salários baixos, levando trabalhadores a aceitarem remunerações inferiores. Agora, vemos uma recuperação consistente, com salários em crescimento e uma taxa de desemprego em queda. A tendência é que essa melhora continue nos próximos meses.

Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital:

Em relação à taxa de desemprego, temos dados importantes. A taxa caiu para 6,6% no trimestre de junho a agosto, em comparação aos 7,1% de março a maio, atingindo o menor nível desde o início da série histórica, em 2012. No ano, a queda é ainda mais expressiva, de 1,2%, o que representa 7,3 milhões de desocupados.

É importante destacar que essa medição considera apenas os desocupados no trimestre atual. Aqueles que encontraram ocupações informais no trimestre anterior não são contabilizados, o que dificulta saber se a redução se deve a desistências ou à geração de empregos. Observamos um cenário misto, com parte dos trabalhadores desistindo e outra parte encontrando ocupação. O número de trabalhadores aumentou para 102,5 milhões, um crescimento significativo.

Esses trabalhadores têm um rendimento médio de R$ 3.228, o que representa um aumento de 5,1% na média salarial anual. Esse cenário, por sua vez, pode pressionar a inflação, como já aconteceu nos Estados Unidos no início de seu ciclo inflacionário. O aumento dos salários aqui é expressivo e deve ser observado com atenção.

A massa de rendimentos, que corresponde à soma dos rendimentos de todos os trabalhadores, cresceu 8,3% em termos anuais, acima da inflação. Esse aquecimento econômico tem o lado positivo de impulsionar a economia, mas também é um fator gerador de inflação, uma vez que o aumento do rendimento estimula o consumo, e a população brasileira, tradicionalmente, não tem o hábito de poupar, o que agrava o cenário.

Nesse contexto inflacionário, a alta da taxa Selic pode continuar, sendo provável que novos aumentos ocorram, além do que já foi decidido na última reunião do COPOM. O crescimento dos salários e da massa de rendimentos contribui para esse cenário, que, em algum momento, precisará ser contido.

A maior parte desses dados vem do setor privado. O setor público também registrou um aumento no número de funcionários não estatutários, como em contratações emergenciais, mas esse crescimento foi menos expressivo. O número de servidores estatutários e militares permaneceu estável em relação ao trimestre anterior.

Em resumo, o país está gerando empregos, com o número de trabalhadores crescendo para 102,5 milhões. Contudo, esse aumento na renda e na atividade econômica funciona como um motor para a inflação, algo que o Banco Central tenta controlar. O grande desafio agora é conter o consumo, tanto o dos trabalhadores que estão ganhando mais, quanto o do governo, que tem aumentado seus gastos em comparação a ciclos passados. Esse é o principal desafio para a economia brasileira no momento.

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