Comentários sobre a última reunião do Comitê de Política Monetária

Comentários sobre a última reunião do Comitê de Política Monetária

Há uma semana (30/07), o Comitê de Política Econômica manteve a taxa de juros em 10,5% na chamada "super-quarta" da economia. Acompanhe comentários de especialistas:

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos:

A decisão de manter a taxa de juros em 10,5% era amplamente esperada. No entanto, havia um grupo no mercado financeiro que estava desconfortável, imaginando a possibilidade de uma alta. O comunicado do Banco Central veio bastante similar ao anterior, destacando pontos como a piora na situação fiscal e a inflação de serviços, mas sem sinalizar claramente uma alta de juros em setembro.
Quem defende uma alta de juros pode argumentar que a deterioração das expectativas fiscais e a demora na convergência da inflação de serviços justificam essa posição. No entanto, entendo que o Banco Central agiu corretamente ao manter o tom do comunicado semelhante ao anterior. Duas reuniões atrás, vimos uma divisão; na última, o corte de juros foi interrompido, e esta seria a primeira manutenção após essa pausa. Não faria sentido mudar de direção abruptamente e subir os juros em setembro.
Desde a última reunião, houve o contingenciamento, e o Banco Central Americano mudou de postura, indicando um possível corte de juros em setembro, o que melhora o cenário. Embora a inflação de julho tenha sido alta devido a reajustes nos combustíveis, passagens aéreas e energia, a expectativa é que a de agosto seja mais baixa. Nos próximos 45 dias, esperamos argumentos positivos para que o Copom mantenha a taxa em 10,5% sem polêmicas.
O comunicado mantém uma margem de dúvida tanto para aqueles que esperam uma alta quanto para os que preveem manutenção. Com o tempo, as entrevistas do Banco Central e de seus dirigentes, incluindo o presidente Roberto Campos Neto, devem esclarecer suas intenções. Campos Neto tem afirmado que o próximo passo não é uma alta, mas o mercado financeiro estará atento ao nome do próximo presidente do Banco Central, fator relevante em agosto.

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Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital:
O Copom decidiu manter a taxa de juros da economia brasileira em 10,5% ao ano na noite desta quarta-feira. Apesar da decisão unânime pela manutenção, o comunicado trouxe alguns elementos novos em sua análise.
Primeiro, houve uma pequena alteração no cenário internacional, com divergências entre os principais países em termos de política monetária. Os Estados Unidos lideram com a manutenção de taxas de juros mais elevadas por um período mais longo. Esse descompasso global afeta negativamente a política monetária doméstica.
No contexto interno, a inflação, especialmente nos núcleos, permanece elevada e não condizente com a meta inflacionária, apesar de um arrefecimento na inflação geral. A economia brasileira mantém um dinamismo que gera preocupação para a inflação futura, não deixando o Banco Central tranquilo em relação à possibilidade de queda futura dos juros.
A principal característica do comunicado de hoje está no balanço de riscos, que foi modificado. Antes simétrico, com dois vetores de baixa e dois de alta inflacionária, agora conta com três vetores de alta e dois de baixa inflacionária. Os vetores de baixa permanecem os mesmos, principalmente os impactos defasados do ciclo de aperto monetário.
Entre os vetores de alta inflacionária, destaca-se a desancoragem das expectativas, que afeta a precificação dos ativos e produtos, e a incapacidade de crescimento da oferta da economia doméstica, dada a resiliência do mercado de trabalho e o elevado nível de atividade. Além disso, há preocupação com a condução da política econômica, tanto doméstica quanto internacional, que integra o balanço de riscos.
A política fiscal, mencionada de forma suavizada, agora compõe o balanço de riscos, mostrando a preocupação do Banco Central com a falta de arrefecimento inflacionário por meio dessa política. Isso se aplica tanto à política econômica interna quanto à externa.
O comunicado destaca a necessidade de ancorar as expectativas inflacionárias como um fator crucial para a queda dos juros no Brasil, algo que ainda está distante de ocorrer. A perspectiva internacional também não sofreu modificações benéficas significativas.
Por fim, a preocupação com os gastos fiscais e a condução da política fiscal permeia todos os pontos de risco apresentados pelo Copom.
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Marcelo Boragini, sócio e especialista em renda variável da Davos Investimentos:
O Copom decidiu por unanimidade manter a taxa de juros inalterada no Brasil. O comunicado foi duro, mas inteligente, reconhecendo a deterioração das expectativas, a piora do quadro fiscal e a depreciação do câmbio.
O Copom ainda vê um cenário de desinflação, ou seja, espera que a inflação continue a cair, e aponta que os riscos exigem uma política monetária apertada por mais tempo. Com um horizonte de 24 meses à frente, isso indica que a taxa deve permanecer inalterada por um período prolongado. No entanto, não houve qualquer indicação de que eles planejam aumentar a taxa de juros, contrariando os receios que o mercado vinha precificando na curva de juros futuros.
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Alexandre Lohmann, economista-chefe da Constância Investimentos: 
O Copom decidiu por unanimidade manter a taxa de juros inalterada, destacando a necessidade de "maior cautela" devido às expectativas desancoradas. A incerteza externa diminuiu, como indicado pela remoção da menção a "elevada e persistente". No cenário doméstico, o Copom revisou a análise da desinflação, reconhecendo que o processo desacelerou, com os núcleos da inflação ainda acima da meta.
As previsões para o primeiro trimestre de 2026, com base na Selic da pesquisa Focus, estão em 3,4%, e no cenário alternativo (Selic constante), em 3,2%. O cenário alternativo é considerado o "plano de voo" do Copom, e o desvio de 0,2% não justifica um aumento da Selic por enquanto.
O balanço de riscos agora apresenta mais fatores altistas (3) do que baixistas (2), incluindo a desancoragem prolongada das expectativas de inflação, a maior resiliência na inflação de serviços devido a um hiato do produto mais apertado, e o risco de depreciação da taxa de câmbio. Além disso, o cenário fiscal contribuiu para a deterioração das expectativas.
O ponto central da reação do Copom parece focar no desvio entre o cenário alternativo e a projeção do IPCA no fim do horizonte relevante, exigindo atenção constante às mudanças econômicas para decisões futuras.