Para além das emergências, doações de sangue são transformadas em medicamentos gratuitos para pacientes do SUS

Para além das emergências, doações de sangue são transformadas em medicamentos gratuitos para pacientes do SUS

Essa sexta-feira (14) foi dia de celebrar o Dia Mundial do Doador de Sangue, uma data que no Brasil exalta um ato altruísta, voluntário e não remunerado, que vai além de salvar vidas em emergências. Ao doar sangue, o doador beneficia pacientes que precisam de transfusões emergenciais, cirurgias e queimaduras, contribuindo de forma determinante para a produção e distribuição gratuita de hemoderivados pela Hemobrás (Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnológicos). Os hemoderivados, que têm o plasma sanguíneo como matéria-prima, são medicamentos que desempenham função essencial no tratamento de diversas doenças graves, como câncer, queimaduras graves, hemorragias (muitos pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva), hemofilia e outras doenças de coagulação do sangue e talassemia (anemia crônica hereditária). Plasma sanguíneo é um componente do sangue humano. 

No Brasil, cerca de 3,4 milhões de doações são realizadas anualmente. O número representa cerca de 1,8% da população brasileira, com hábito de fazer doações de forma regular. Com a doação de uma pessoa, pelo menos quatro vidas podem ser salvas através de transfusões e milhares de pessoas podem ter a qualidade de vida melhorada pelos hemoderivados. O percentual está muito aquém do considerado ideal, que fica entre 3% e 5%, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Por esta razão, a data e o mês servem para conscientizar a população para a relevância das doações e a ampliação dos estoques dos hemocentros. A lógica da doação de sangue é encadeada: se o número de doadores aumenta, o volume de plasma excedente segue a mesma tendência e, assim, mais plasma pode ser repassado à Hemobrás para que uma quantidade ainda maior de hemoderivados sejam produzidos e distribuídos a quem precisa.

Todo o mês de junho é dedicado à campanha "Junho Vermelho". A mobilização, que é de caráter internacional, busca conscientizar a população sobre a importância da doação de sangue e aumentar os estoques dos hemocentros. Os serviços de hemoterapia públicos e privados que se disponibilizam a contribuir com a produção de medicamentos realizam a coleta e processamento do sangue para a separação dos hemocomponentes, como o plasma, hemácias, plaquetas e crioprecipitados (fontes de proteínas plasmáticas insolúveis à baixa temperatura). Pela legislação brasileira, o plasma excedente das doações desses serviços de hemoterapia deve ser fornecido pela hemorrede para a Hemobrás. A Portaria nº 1.719/2020 do Ministério da Saúde prevê que a Hemobrás é responsável pela gestão do plasma excedente do uso hemoterápico no país, transformando-o em medicamentos hemoderivados e fornecendo-os para o SUS. Atualmente, a empresa fornece Albumina, Imunoglobulina, Fatores Coagulantes VIII e XIX, além do Fator Coagulante VIII na versão recombinante, ou seja, produzido através da biotecnologia e que não depende do plasma.

Doar sangue é simples, rápido e seguro; a doação leva em torno de 30 minutos e é um processo indolor. Todos os materiais utilizados são descartáveis e o cidadão não corre risco de contrair doenças. Para ser um doador, basta estar em bom estado de saúde, ter entre 18 e 65 anos, pesar no mínimo 50 quilos, apresentar documento de identidade com foto e, sendo mulher, não estar grávida ou amamentando. Para a doação, basta dirigir-se a qualquer hemocentro do Brasil.

No Brasil, a doação de sangue tem sido objeto de acalorado debate recente em virtude da apreciação da PEC 10/2022, conhecida como PEC do Plasma no Congresso Nacional. Se aprovada, a PEC pode causar grande impacto negativo no volume de plasma excedente doado para a produção de hemoderivados e “comprometer os estoques do país para fins transfusionais”, aponta um manifesto publicado pela Hemobrás e intitulado Dez motivos que justificam o arquivamento da PEC do Plasma em 2023.