Felicidade fake

Felicidade fake

*Por Marcus Aragão

A felicidade das redes sociais realmente não dá para curtir. Simplesmente porque não compartilhamos a vida como ela é. Postamos a vida que queremos mostrar. Nosso personagem feliz e realizado é quem aparece. Sempre sorrindo, sem problemas, rodeado de amigos, bebendo e comendo bem. O que esperar mais da vida além de likes? Acontece que esse não é o padrão da vida.

Esse mundo perfeito que alimenta os feeds stories pode estar nutrindo a angústia de muita gente por meio de uma comparação equivocada. Claro, ninguém é feliz como parece nas redes sociais, mas o impacto na saúde mental das pessoas é bem verdadeiro.

Todo mundo tem dias bons e dias ruins. Mas geralmente as pessoas postam apenas o que é bom. O que se enxerga são ‘fragmentos’ do outro. Quem está em um dia ruim, vai vendo os posts e pensando ‘como aquela pessoa é mais bonita que eu, como o outro viaja mais, como aquele tem mais dinheiro.’ E isso acaba gerando uma programação de inferioridade na emotividade de quem está fazendo a comparação. E ela sempre tende a achar que é inferior aos outros”, explica Daniela Londe, doutora em Ciências da Saúde da FacUnicamps.

Segundo pesquisa realizada pela instituição de saúde pública do Reino Unido, Royal Society for Public Health, as taxas de ansiedade e depressão entre jovens de 14 a 24 anos aumentaram 70% nos últimos 25 anos. Ao todo, 1.479 participantes das pesquisas falaram sobre o nível de envolvimento com aplicativos como YouTubeX (Twitter)Instagram Snapchat e como eles influenciavam em seus sentimentos. Nos EUA, 22% dos Millennials não têm nenhum amigo e 25% dizem não ter nenhum conhecido.

O resultado indicou que o compartilhamento de fotos pelo Instagram impacta negativamente no sono, na autoimagem e aumenta o medo dos jovens de ficar de fora dos acontecimentos. Cerca de 70% deles revelaram que o aplicativo fez com que se sentissem piores em relação à própria autoimagem e, quando a fatia analisada são as meninas, esse número sobe para 90%.

Para Jackeline Giusti, psiquiatra da infância e adolescência do Instituto de Psiquiatria da USP, o uso inadequado das redes sociais pode impactar negativamente na vida de adultos, mas sobretudo na de crianças e jovens. “Estudos mostram que as redes sociais desenvolvem maior irritabilidade entre crianças que utilizam mais de duas horas diárias. Isso pode acabar desenvolvendo sintomas depressivos, diminuição do rendimento escolar e diminuição de atividades lúdicas e esportivas, que auxiliam na saúde mental”, avaliou.

A comparação da sua vida com o que você vê nas redes sociais é constante. Se você se identificou com esse comportamento, cuidado! São sinais de que a sua presença nas redes sociais está excessiva e, junto a outros fatores, pode acarretar quadros de depressão e ansiedade.

A verdade é que conhecemos mais pessoas bem-sucedidas do que felizes. Afinal, se todo mundo é tão feliz, por que se vende tanto remédio para dormir? Por que será que os consultórios de psicólogos e psiquiatras estão tão lotados? E tanta gente se queixando de síndromes do pânico, ansiedade, insônia e depressão? Isso o Instagram não mostra.

Nenhum incêndio começa grande

Quanto antes impedirmos o crescimento desse problema, mais rápido será a solução. Como dizia Aristóteles, o caminho para a felicidade parte de suas escolhas, exercícios físicos, amor, amizade, comedimento e espírito comunitário. Veja que não tem beleza nem riqueza. Por que será? Não estou defendendo que você seja feio e pobre. Apenas que não precisa se sentir infeliz nessa situação.

Ainda lembrando de Aristóteles, escolha sempre o caminho do meio. Fuja dos extremos. Seja em relação ao uso de redes sociais, busca pela beleza, orientação política, uso de bebidas ou até na interpretação deste texto – ele, assim como você, não é perfeito. E está tudo bem.

 

(*) Empresário e publicitário.