Obesidade deve afetar 48 por cento da população mundial até 2044

Especialista explica tudo sobre a doença multifatorial, os tipos de classificações, aborda a prevenção e os tratamentos mais modernos

Obesidade deve afetar 48 por cento da população mundial até 2044

De acordo com novo estudo nacional divulgado em Congresso Internacional sobre Obesidade (ICO 2024), a estimativa é que a obesidade e o sobrepeso atinjam 68,1% dos brasileiros até 2030, sendo o grupo de mulheres a maioria dos casos, com 30,2% obesas e 37,7% com excesso de peso. Os homens correspondem a 28,8% e 39,7%, respectivamente. E, até 2044, as projeções são de que a doença afete quase metade da população brasileira adulta (48%) e o sobrepeso esteja em outros 27%.

Elaine Dias, médica endocrinologista e metabologista, ressalta que a obesidade é uma preocupação global com números alarmantes. “Mais de 1 bilhão de pessoas são portadoras da patologia, sendo 650 milhões de adultos, 340 milhões de adolescentes e 39 milhões de crianças, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS)”, ressalta a especialista.

A médica explica que a obesidade é uma doença crônica, multifatorial e complexa. Existem diversos fatores relacionados e, por isso, é fundamental que o paciente faça uma avaliação médica, embasada em exames laboratoriais. “A obesidade é uma patologia e infelizmente a maioria das pessoas sofrem não somente por conta das demais doenças que ela pode acarretar, como hipertensão, diabetes etc, mas também em função de preconceito, especialmente as mulheres. Há muitos pacientes que recorrem ao médico por isso, porque passaram por situações humilhantes no trabalho, na academia, dentro de casa, na loja de roupas e até em consultórios médicos. O que está diretamente relacionado à falta de informação e conscientização da população”, indaga a médica.

A endocrinologista e metabologista ressalta que, além da genética, a ansiedade e a compulsão alimentar estão entre os principais gatilhos para gordura excedente no organismo. “Nas minhas consultas, trabalho muito a necessidade de qualidade de vida e autoaceitação com meus pacientes. Foi assim que percebi a importância de aliar tratamentos endocrinológicos com acompanhamento nutricional, psicológico e tecnologias que proporcionam bem-estar. O importante não é o quanto se pesa ou se emagrece, mas como o paciente se sente e os impactos na sua saúde”, comenta a especialista.

A obesidade reflete em diversos outros sistemas do corpo: coração, fígado, rins, articulações e sistema reprodutivo. “Ela é capaz de provocar uma série de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão, acidente vascular cerebral e várias formas de câncer, bem como problemas de saúde mental”, explica Elaine.

 

Tipos de Obesidade

A obesidade se manifesta de diferentes formas, cada uma com suas particularidades e riscos associados. Tradicionalmente, é classificada da seguinte maneira:

-Obesidade Tipo 1 (Moderada): IMC entre 30 a 34,9 kg/m². Neste estágio, os riscos para doenças associadas, como diabetes tipo 2 e hipertensão, começam a ser significativos.

-Obesidade Tipo 2 (Severa): IMC entre 35 a 39,9 kg/m². Os riscos para complicações de saúde aumentam substancialmente.

-Obesidade Mórbida: IMC de 40 kg/m² ou mais. Neste nível, o indivíduo enfrenta um risco muito elevado de desenvolver problemas de saúde graves.

Além disso, a obesidade pode ser subdividida com base na distribuição de gordura corporal:

-Obesidade abdominal (Androide): Caracterizada pelo acúmulo de gordura na região abdominal. Esta é mais comum em homens. Está associada a um risco aumentado de doenças cardiovasculares.

-Obesidade periférica (Ginoide): Com acúmulo de gordura nas coxas e quadris. Esta é mais frequente em mulheres. Apesar de menos associada a doenças metabólicas, pode dificultar a mobilidade e afetar a qualidade de vida.

Elaine explica que, para identificar o tipo de obesidade, geralmente se inicia com o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), uma medida simples que relaciona peso e altura. No entanto, para uma avaliação mais precisa, é necessário recorrer a análises complementares, como a medição da circunferência abdominal, densitometria corporal, e bioimpedância, que oferecem uma visão mais detalhada da composição corporal.

Como prevenir a obesidade?

A médica aponta que alguns hábitos que são fundamentais para melhorar a saúde de modo geral e, consequentemente, prevenir a obesidade. “Uma dica para saber se os alimentos que estão sendo ingeridos são ideais ou não é ter em mente a importância do descascar mais e abrir menos. Comer o máximo possível de opções não industrializadas, preferir as que sejam frescas e naturais, evitando, principalmente, as ultraprocessadas e ricas em gorduras trans. Esses alimentos levam à inflamação do nosso corpo, piorando o hormônio do estresse, que é um dos principais impulsionadores da compulsão que leva ao sobrepeso e à obesidade, impactando em todo o metabolismo. Isso, em pessoas que possuem comorbidades, como diabetes, hipertensão, entre outras, provoca agravamento e eleva os riscos de consequências muito sérias”, ressalta a endocrinologista.

A especialista reforça que algumas práticas precisam ser incorporadas ao dia a dia, independentemente da idade, da atividade profissional e de ter alguma patologia. Três dicas infalíveis, são:

- Criar um ambiente saudável em casa e no trabalho: evitar o que é chamado de ambiente obesogênico. Assim, caso haja algum episódio de compulsão, se a pessoa tiver acesso somente a alimentos magros, automaticamente irá comê-los no lugar de opções prejudiciais à saúde;

- Alimentação rica em fibras: elas são grandes aliadas na sensação de saciedade, além de ajudarem a diminuir os níveis de açúcar no organismo;

- Básico bem-feito: água para hidratação do corpo, arroz com feijão, ovo, frutas, verduras e legumes são essenciais e acessíveis a todos.

Tratamentos Modernos

Os tratamentos para obesidade têm evoluído significativamente, com opções que vão além das tradicionais recomendações multidisciplinares, de dieta e exercício físico. “A ciência tem descoberto grandes aliados farmacológicos. Apesar de criado para tratamento de diabetes, o medicamento Semaglutida, por exemplo, conhecido como Ozempic e Wegovy, promove, comprovadamente, a redução de mais de 15% do peso corporal. É um análogo do hormônio GLP1, produzido no intestino”, explica Elaine.

Segundo ela, é seguro e eficaz, porém, pouco acessível à maioria da população pelo alto custo. Existem vários estudos mostrando a eficácia e segurança dessas moléculas. “Recentemente, foi publicado o estudo SELECT demonstrando que pacientes obesos, com doença cardíaca, usando semaglutida 2,4mg por semana reduziram em 20% os eventos cardíacos em comparação com o grupo que estava usando placebo”, complementa a médica.

Outra inovação é a Tirzepatida, com o nome comercial Mounjaro, um medicamento revolucionário que também foi aprovado pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A inovação é conhecida como “king kong” entre os fármacos para o emagrecimento e tratamento do diabetes tipo 2. É sucesso absoluto nos Estados Unidos por ser muito mais potente na melhora da glicose e no auxílio da perda de peso rápida. “Ele é o análogo dos hormônios intestinais GLP1 e GIP, que agem no hipotálamo, no centro da fome e saciedade”, ressalta a especialista.

A médica explica que, apesar dos resultados, eles são aliados e precisam ser prescritos por um profissional da saúde, incorporados a uma rotina também saudável, que inclua alimentação balanceada e atividade física.

Além dessas inovações, há a cirurgia bariátrica e metabólica, indicada para casos de obesidade severa ou mórbida; terapias comportamentais e de estilo de vida, que envolvem programas intensivos de mudança de comportamento, muitas vezes combinados com suporte psicológico; tecnologias estéticas que potencializam os tratamentos com a redução de medidas, fortalecimento dos músculos, entre outras soluções.

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