Maioria dos jornalistas utiliza Inteligência Artificial, diz pesquisa da ESPM

A ferramenta vem sendo utilizada sem treinamento adequado; Um em cada quatro profissionais não usa IA no trabalho

Maioria dos jornalistas utiliza Inteligência Artificial, diz pesquisa da ESPM

O grupo de pesquisa Tecnologias, Processos e Narrativas Midiáticas ESPM, formado por professores do curso de Jornalismo da instituição, com parceri ado Jornalistas&Cia, apresentou os principais resultados da primeira fase da pesquisa A inteligência artificial para jornalistas brasileiros na quinta edição do Festival 3i ,no Rio de Janeiro.

Pesquisa

O estudo tem como objetivo identificar o nível de conhecimento da inteligência artificial generativa entre jornalistas atuantes no país e conferir o grau de conhecimento e de utilização de suas ferramentas na produção e nos negócios jornalísticos, bem como as preocupações que envolvem seu uso na atividade profissional. A pesquisa foi realizada entre o período de 19 de dezembro de 2023 e 24 de fevereiro de 2024, com uma amostra de 423 jornalistas que responderam a um questionário online de 13 perguntas em escala Likert (com alternativas de concordância e discordância total). Participaram do levantamento, profissionais das cinco regiões do país, de 21 das 27 unidades da federação, diferentes faixas etárias, áreas de atuação, funções e vínculos empregatícios.

 

Resultados:

Conhecendo e desconhecendo IA

A inteligência artificial não é algo desconhecido para os jornalistas. A soma dos percentuais entre os que concordam parcial ou totalmente com a afirmação é de 86,5%, o que indica que a grande maioria considera que conhece IA e sabe como a ferramenta se relaciona com o jornalismo. No entanto, o nível de conhecimento diminui à medida que a idade dos jornalistas aumenta. O índice de concordância (parcial ou total) sobre o conhecimento de IA chega a 93,2% entre os jornalistas de 25 a 34 anos (percentual mais alto).

Entre os profissionais de até 24 anos, a taxa de conhecimento é de 84%. Conforme a faixa etária sobe, a partir dos 35 anos, a taxa de concordância oscila de 85,4% a 88%, até atingir seu patamar mais baixo entre os profissionais de 65 anos ou mais, com 76,4%. Nesta última faixa etária, está também o maior índice de discordância (parcial ou total) com a afirmação, 10,9%, o que mostra que o desconhecimento sobre IA é maior entre os jornalistas mais velhos.

Treinamento em IA

Conhecer, entretanto, não significa ter recebido um treinamento para utilizar IA, pois os dados da pesquisa mostram que, quando questionados se recebem ou já receberam treinamento sobre uso de inteligência artificial no jornalismo, 76,3% dos profissionais discordam parcial ou totalmente. Considerando apenas a discordância total, o percentual chega a 69,2%, o que significa que sete em cada dez profissionais nunca tiveram treinamento algum para o uso de IA no jornalismo.

As respostas ao questionário mostram, também, que, embora a maioria não tenha recebido treinamento, dois terços dos jornalistas (66,9%) consideram a possibilidade de se capacitar para o uso de IA no trabalho, enquanto um em cada cinco (20,8%) vê algum tipo de impossibilidade.

O índice de falta de treinamento em IA é alto (acima de 70% de discordância parcial ou total) em todas as faixas etárias. A situação é mais crítica entre os profissionais de até 24 anos, atingindo o maior índice, com 96%. Nessa faixa etária, 4% se declaram neutros e nenhum jornalista expressa qualquer nível de concordância (parcial ou total). Entre os que dizem receber algum tipo de treinamento, nas diferentes faixas etárias, 20% estão na faixa de  concordância (parcial ou total), com exceção dos jornalistas de 45 a 54 anos, em que o índice chega a 20,5%.

As taxas de falta de treinamento são altas entre jornalistas de todas as raças/etnias. No entanto, o índice é mais alto entre profissionais que se declaram pretos, com 90% de discordância (soma de parcial e total), contra 79,7% entre pardos e 75,1% entre brancos. Profissionais de audiovisual têm o menor índice de treinamento, com 85,7% de discordância (soma de parcial e total).

Receio de redução de vagas no mercado de trabalho

Há receio entre a maioria dos jornalistas de que a IA possa provocar corte de vagas em jornalismo. A soma dos que concordam parcial ou totalmente com essa possibilidade chega a 68,3%, dois terços da amostra. A somatória dos que não se posicionam (12,1%) e dos que discordam (19,6%) diante da questão é de 31,7%, quase um terço da amostra.

O receio de redução de vagas sobe à medida que a idade avança, em especial, a partir dos 35 aos 44 anos, faixa etária em que a concordância total ou parcial chega a (73,9%). O nível mais alto aparece entre os profissionais de 55 a 64 anos (77,3%).

Quadro síntese: conhecimento

A grande maioria dos jornalistas que participaram da pesquisa considera que conhece IA e sabe como ela se relaciona com o jornalismo.

O maior índice que indica o desconhecimento sobre IA é entre os jornalistas mais velhos.

A percepção sobre o conhecimento é semelhante entre mulheres e homens cisgêneros.

Os profissionais que se declaram pardos têm maior conhecimento sobre IA seguidos por brancos, embora a diferença seja pequena.

Jornalistas da região Sudeste e da região Centro-Oeste indicam ter maior conhecimento sobre IA com índices próximos.

Profissionais de diferentes vínculos empregatícios concordam total ou parcialmente que conhecem IA, com exceção daqueles que trabalham por job.

Jornalistas que trabalham com mídias sociais são os que mais conhecem IA no jornalismo.

Jornalistas com cargos mais altos são os que mais conhecem IA.

Quadro síntese: treinamento

A maioria dos jornalistas que respondeu a pesquisa, não recebeu treinamento em IA e considera a possibilidade de se capacitar.

Os jovens até 24 anos compõem a faixa etária que menos recebeu treinamento.

Homens são os que menos receberam treinamento.

Em relação à raça e etnia, os que se declararam pretos são os que menos receberam treinamento.

Profissionais de audiovisual têm o maior índice de falta de treinamento.

Jornalistas com cargo de editor são os que têm o maior índice de falta de treinamento.

Responsável pelo estudo, o grupo de pesquisa Tecnologias, Processos e Narrativas Midiáticas - ESPM é formado pelos jornalistas Antonio Rocha Filho, Cecilia Pincer, Edson Capoano, Maria Elisabete Antonioli e Patrícia Rangel, professores do curso de Jornalismo da ESPM-SP. No Jornalistas&Cia, a coordenação dos trabalhos referentes à pesquisa é dos jornalistas Eduardo Ribeiro e Wilson Baroncellli.