Líderes e gestores exercem impacto profundo na saúde mental dos funcionários, revela pesquisa

Workforce Institute entrevistou funcionários de 10 países para estudar a influência do trabalho e dos gerentes na saúde mental dos funcionários; no Brasil, levantamento recente da Crescimentum aponta o perfil de líderes no país

Líderes e gestores exercem impacto profundo na saúde mental dos funcionários, revela pesquisa
Uma pesquisa recente conduzida pelo Workforce Institute do Reino Unido mostrou a influência vital de líderes e gestores na saúde mental de seus colaboradores. Com um escopo amplo que englobou 3.400 pessoas em 10 países, a pesquisa teve como objetivo destacar o papel crucial desempenhado por esses cargos no apoio à saúde mental tanto dentro, quanto fora do ambiente de trabalho. Foram coletadas respostas de 600 funcionários nos Estados Unidos e 200 funcionários em cada um dos seguintes países: Austrália/Nova Zelândia, Canadá, França, Alemanha, Índia, México, Holanda e Reino Unido.
 
O estudo mostrou que os trabalhadores estão cansados, estressados e se sentindo sobrecarregados. Um em cada 5 funcionários (20%) diz que seu trabalho afeta sua saúde mental de forma negativa, para as mulheres o cenário parece ainda pior (23%, contra 16% dos homens). No final do dia de trabalho, 43% dos funcionários estão "frequentemente" ou "sempre" exaustos e 78% dizem que o estresse afeta negativamente seu desempenho. Esse estresse no trabalho também afeta nossas vidas pessoais, pois os funcionários dizem que o trabalho afeta negativamente sua vida doméstica (71%), bem-estar (64%) e relacionamentos (62%).
 
Para o professor Luiz Gaziri, autor de três livros sobre comportamento humano, estudioso da felicidade enquanto componente fundamental da vida humana, há uma explicação para esse estresse. “Susan Fiske, cientista de Princeton, descobriu que, em grupos de primatas, aqueles que estão abaixo em um “ranking” de poder olham para o macho alfa praticamente a cada trinta segundos, observando seu comportamento. Comparando esta lógica a nós, seres humanos, podemos traçar um paralelo: o líder prevê aquilo que pode acontecer com o funcionário. Se ele está pressionando, falando sobre demissões e sugerindo que o mercado está ruim,com  essas informações, ele cria um estresse, uma indicação de que, dali a pouco, esse colaborador poderá ser mandado embora. De que poderá acontecer alguma coisa ruim para a sua vida. Da mesma forma que quando um líder está sorrindo,  feliz e animado as pessoas começam a pensar que terão boas notícias. Estamos constantemente olhando para aqueles que têm o nosso destino nas  mãos, porque o líder é aquele que pode te mandar embora amanhã", afirma Gaziri.
 
De acordo com a pesquisa, os ciclos de notícias negativas que encabeçam a incerteza econômica, as mudanças climáticas e a instabilidade social em todo o mundo contribuem para um aumento nos problemas de saúde mental. Incapazes de fazer uma pausa, os funcionários estão desesperados para retomar o controle de seu bem-estar emocional, com quase dois terços dizendo que aceitariam um corte salarial por um trabalho que melhor apoie sua saúde mental. Com isso, 60% dos funcionários dizem que seu trabalho é o maior fator que influencia sua saúde mental. Os gerentes têm tanto impacto na saúde mental das pessoas quanto seu cônjuge (ambos 69%) – e ainda mais impacto do que seu médico (51%) ou terapeuta (41%).
 
Estresse no trabalho
 
Quarenta por cento das pessoas estão “frequentemente” ou “sempre” estressadas com o trabalho. Mas mesmo ao admitir sua carga de trabalho é um problema, 38% dos funcionários dizem que “raramente” ou “nunca” conversaram com seu gerente sobre isso. Por que não? Alguns dizem “meu gerente não se importaria” (16%) ou “meu gerente está muito ocupado” (13%), enquanto outros têm uma sensação de que eles “devem ser capazes de descobrir” sobre proprios (20%). 
 
Segundo Gaziri, não compartilhar preocupações sobre estresse com o gerente é algo normal no mundo corporativo. “A gente vem numa cultura onde falar que está estressada, compartilhar esse tipo de coisa com o gerente, é visto como uma fraqueza. As pessoas tiram sarro daquelas que dizem que estão estressadas, que têm algum problema de saúde mental”, diz o pesquisador.
Além disso, 81% dos funcionários em todo o mundo priorizaram uma boa saúde mental em detrimento de um trabalho bem remunerado, e 64% admitem que aceitariam um corte salarial por um trabalho que melhor apoiasse seu bem-estar mental.
 
Ainda na visão do autor de “A Ciência da Felicidade (2019)”, esse é um sinal claro de falta de segurança psicológica dentro das empresas. “Amy Edmondson, cientista da Harvard, descobriu o quanto ter segurança psicológica dentro do ambiente de trabalho melhora a performance das equipes. Ela revela que muitas vezes é culpa do líder essa insegurança projetada no funcionário. Mesmo que ele não queira, por ele estar numa posição de liderança, muitas vezes ele corta as pessoas no meio de uma conversa, ridiculariza e acaba inibindo aquele e outros funcionários”, complementa Gaziri.
 
Ser um gerente intermediário não é uma tarefa fácil. Cerca de metade dos gerentes ouvidos na pesquisa feita pelo Workforce Institute gostaria que alguém tivesse os alertado para não aceitarem o emprego atual (57%) e também dizem que é provável que eles deixem o emprego dentro dos próximos 12 meses porque eles estão experimentando muito estresse relacionado ao trabalho (46%).
Setenta por cento dos gerentes recebem um pagamento reduzido atualmente em um trabalho que cabe melhor ao seu bem-estar mental. As empresas também precisam se concentrar na construção da inteligência emocional de seus líderes em todos os níveis das organizações. Competências como estresse, gerenciamento, controle de impulsos e empatia — mais do que habilidades técnicas -- ajudará grandes gerentes emergem e apoiam melhor suas equipes.