Escritoras Negras apostam em publicações independentes para driblar mercado editorial
Com resiliência e propósito autoras negras driblam as adversidades do mercado editorial brasileiro que ainda hoje não é muito aberto para escritoras, principalmente negras
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Segundo pesquisa realizada por grupo de estudos de literatura contemporânea da Universidade de Brasília após análise de 258 romances publicados por três grandes editoras entre os anos de 1990 e 2004, 93,9% dos autores publicados eram brancos. O estudo também mostrou que em 56,6% das obras não há nenhuma personagem não branca, e somente em 1,6% não há nenhuma personagem branca.
Outro dado é que 20% das personagens negras aparecem em apenas dois livros.
Nos últimos anos o cenário começou a mudar, avançar, ainda que timidamente, e na primeira edição do Festival Literário Pretinhas que acontece nos dias 23 e 24 de fevereiro, na Fábrica de Cultura Cachoeirinha, 16 escritoras e 4 editoras que publicam obras de autoras negras serão destaque para que mais pessoas conheçam o trabalho que vem sendo desenvolvido por mulheres que resolveram escrever literatura com personagens pretas, algumas como relato pessoal e questionamentos e outras de maneira lúdica para que crianças aprendam desde cedo a serem antirracistas e as Pretinhas possam se ver representadas também nos livros.
Vilma Queiroz, que é a idealizadora do Festival Literário Pretinhas, mulher negra, professora aposentada que quando criança não se via representada nos livros e enquanto professora buscou alternativas para contar histórias com personagens pretas, declara: “o mercado editorial brasileiro ainda está bastante atrasado nas questões de gênero e raça, principalmente mulheres negras, mesmo que a literatura preta tenha nomes inspiradores de autoras como Conceição Evaristo, Maria Carolina de Jesus, Maria Firmina dos Reis, a primeira romancista negra do país, Djamila Ribeiro, entre outras, e o Festival Literário Pretinhas vai apresentar autoras negras contemporâneas que estão publicando seus livros na maioria das vezes de maneira independente”.
Vilma Queiroz completa: “Entre as escritoras negras participantes destacamos duas autoras que com resiliência e propósito conseguiram lançar livros com temática afro-brasileira ou com personagens negros, de forma independente: Beatriz Cruz, autora do “Carro Cris” e idealizadora do projeto ‘Lá em casa tá tudo bem’, e Patrícia Gonçalves que em 2023 lançou sua própria editora para agilizar a publicação de seus livros e também abrir espaço para outras autoras e escritores negros, a Paty Editora.”
Patrícia Gonçalves é baiana e seu primeiro livro “O Poderoso Chinelinho” foi escrito em 2011 e publicado através do Prêmio Autores Baianos da FGM. Patrícia Gonçalves, mora em São Paulo há 12 anos, e a vontade de escrever foi motivada pela sua experiência como professora, ainda na Bahia.
A escritora também já publicou “Dudinha Presente” em 2022 e “Memórias de Carinho” em 2023, ano que montou sua própria editora, a Paty Editora, para publicação de seus livros e para que outras escritoras e escritores negros tenham oportunidade para publicar suas obras.
Patrícia Gonçalves declara: “A missão da Paty Editora é trazer conteúdo que acrescente e incentive, que fale de dons, talentos, de sonhos que podem ser realizados”.
Beatriz Cruz é da cidade de Diadema, São Paulo, e escreveu “Carro Cris” quando tinha 23 anos. Hoje está com 27 anos e lançou o projeto “Lá em casa tá tudo bem sim” que aborda a dificuldade de crianças e jovens em descobrir as violências e abusos que acontecem no ambiente doméstico. O primeiro episódio foi baseado em sua própria história de abuso sexual.
“Carro Cris” é um livro de educação sexual que apresenta a história de Cris que descobre sobre suas partes íntimas e como cuidar delas e não deixar ninguém tocar.
Beatriz conta que só percebeu que era abusada quando sua primeira namorada, que era mais velha que ela, a alertou. Vinda de uma família conservadora, foi complicado entender tudo que estava passando e tomar coragem para denunciar.
Através do livro “Carro Cris” e do projeto “Lá em casa tá tudo bem sim” Beatriz Cruz busca levar educação sexual para que crianças e adolescentes saibam identificar o que é abuso e buscar ajuda.
O 1° Festival Literário Pretinhas é uma realização da Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo com apoio do Proac, Poeisis, Fábricas de Cultura e produção e direção de Vilma Queiroz Produções Culturais e Renata Poskus Eventos e Comunicação. O evento tem entre seus objetivos incentivar a leitura infantojuvenil e também contribuir para que crianças negras se vejam representadas nas histórias que leem.
Foram selecionadas, por edital, 20 expositoras para a Feira Literária - sendo 16 escritoras negras e 4 editoras que possuam livros infantojuvenis de autoras pretas do estado de São Paulo. Um dos objetivos da Feira Literária é incentivar a leitura e também mostrar que é possível que crianças negras se sintam representadas em personagens de livros.
Confira abaixo a programação completa do 1° Festival Literário Pretinhas que além da Feira Literária contará com diversas atrações interativas com propostas de contribuir para o empoderamento de meninas e jovens negras através de ações afirmativas.
Programação do 1° Festival Literário Pretinhas
Sexta-feira, 23 de fevereiro - das 11 às 18 horas
Feira Literária - das 11 às 18 horas
Oficina de grafite com Erika de Souza
(inspirada no livro “Minha Mãe é Negra Sim” de Patrícia Santana) - das 11 às 13 horas
Oficina de Musicalização com Joyce Ribeiro
(com inspiração na obra “A Menina e o Tambor”, de Sônia Junqueira)- das 14 às 15 horas
Oficina de Tranças com Ingrid Xaiane baseada no livro “Os mil cabelos de Ritinha”, de Paloma Monteiro - das 15 às 16 horas
Teatro “Era uma vez Chapeuzinho Vermelho” - texto e direção de Rony Guilherme e produção de Estúdio Mágico, das 17 às 18 horas
Sábado - 24 de fevereiro - das 11 às 18 horas
Feira Literária - das 11 às 18 horas
Oficina “Brincadeiras Africanas” com Japhette O.N. Lantonkpode inspirada na obra “As brincadeiras africanas de Weza”, de Sheila Perina de Souza - das 11 às 13 horas
Oficina de Dança com Aline Caruzo e baseada no livro “Betha, a bailarina pretinha”, de Bethania Nascimento - das 14 às 15 horas (ir com roupas confortáveis)
Oficina de Artes com Mikaela Sepulvida, com inspiração no livro “Da cor que eu sou”, de Andressa Reis - das 15 às 16 horas
“Batalha das Pretinhas” - 17 às 18 horas
Serviço:
1 ° Festival Literário Pretinhas
Data: 23 e 24 de fevereiro (sexta-feira e sábado)
Horário: das 11 às 18 horas
Local: Fábrica de Cultura da Cachoeirinha
Rua Franklin do Amaral, 1575 - Vila Nova Cachoeirinha
Entrada grátis
Diversão para toda a família
Acompanhe o Festival Literário Pretinhas no www.pretinhas.com.br e no Instagram @pretinhasoficial