Be-a-bá das doenças raras: o que você precisa saber sobre elas, que atingem 13 milhões de brasileiros

Pacientes com doenças raras podem esperar em média 5 anos ou mais para diagnóstico correto

Be-a-bá das doenças raras: o que você precisa saber sobre elas, que atingem 13 milhões de brasileiros

Desde 2008, o Dia Mundial das Doenças Raras é celebrado em 29 de fevereiro, considerado o dia mais raro de todos, já que os anos bissextos ocorrem a cada 4 anos. A data, criada pela EURORDIS (Organização Europeia para Doenças Raras) e por associações de pacientes, tem o objetivo de promover conscientização para governantes, profissionais de saúde e sociedade em geral sobre esses pacientes[1], que, no Brasil, somam aproximadamente 13 milhões de pessoas[2], população maior do que a da cidade de São Paulo.

Há cerca de 7 mil doenças raras catalogadas[3], sendo 80% de origem genética[4] e 20% de causas infecciosas, virais ou degenerativas2, e 75% delas acomete crianças e jovens2. Elas são caracterizadas pela baixa prevalência e têm uma média de espera diagnóstica de 5 anos, pois podem ser confundidas com outras doenças mais comuns, devido a inespecificidade de sintomas[5]. A seguir, respostas às perguntas mais frequentes sobre as doenças raras.

As doenças raras são crônicas?

Em sua maioria, as doenças raras são crônicas, progressivas e incapacitantes (2). Por isso, a antecipação e precisão diagnósticas são fundamentais para evitar ou postergar a progressão dessas doenças, podendo impactar positivamente na qualidade de vida dos pacientes, familiares e redes de apoio, além da sobrevida das pessoas raras.

As doenças raras têm cura?

A maioria das doenças raras não têm cura. Entretanto, entre os tratamentos existentes, quase 10% deles são capazes de interferir na progressão dessas doenças[6], entre eles os medicamentos órfãos. Os outros 90% se referem a medicamentos paliativos e serviços de reabilitação3, que tratam os sintomas. Durante o mês de fevereiro, associações de pacientes, sociedades médicas, setores público e privado e sociedade em geral se unem em prol do cuidado integral dessas pessoas.

As doenças raras são hereditárias?

Estudos indicam que cerca de 80% das doenças raras têm origem genética (4) e 20% são de causas infecciosas, virais ou degenerativas2. É importante diferenciar que doenças genéticas são causadas por mutações que podem ser adquiridas em algum momento da vida ou hereditárias, herdadas dos pais. Além disso, diversas doenças raras apresentam sinais ou sintomas desde o nascimento ou surgem durante a infância[7], como a neurofibromatose, que comumente tem como sinais iniciais as manchas café com leite e os neurofibromas[8], que podem aparecer em diversas partes do corpo.

Qual a diferença entre doenças raras e ultrarraras?

A diferença entre as doenças raras e ultrarraras deve-se em relação à prevalência: as raras acometem cerca de 65 a cada 100 mil indivíduos, enquanto as ultrarraras, como a Síndrome Hemolítica Urêmica atípica (SHUa) e a Hemoglobinúria Paroxística Noturna (HPN), acometem 1 a cada 50 mil indivíduos[9].

Há sintomas em comum entre as doenças raras?

Cada doença rara é única, tem diferentes manifestações e deve ser tratada por sua respectiva especialidade médica. Embora tenham fisiopatologias e sintomas diferentes, a SHUa, a Miastenia Gravis generalizada (MGg), a HPN e o Distúrbio do Espectro da Neuromielite Óptica (NMOSD) têm em comum a desregulação do sistema complemento, componente chave do sistema de imunidade inata, e responsável por proteger o corpo contra patógenos invasores, que podem gerar infecções e outras doenças. Apesar de ativarem essa cascata de reações que ataca células e tecidos saudáveis, essas doenças apresentam sinais, sintomas e complicações diferentes. A SHUa é caracterizada pela anemia hemolítica microangiopática não-imune, trombocitopenia (baixa contagem de plaquetas), que afeta principalmente os rins e outros órgãos[10]. A MGg é caracterizada pela perda de função muscular e fraqueza muscular flutuantes, comumente iniciada pela ptose (pálpebra caída), visão dupla e falta de equilíbrio[11],[12]. A HPN pode apresentar fadiga, dispneia (falta de ar), urina escura ou avermelhada, dor abdominal e trombose[13] e a NMOSD pode gerar cegueira parcial ou completa ou, caso haja inflamação na medula espinhal, pode gerar desde formigamento nas pernas ou braços, até paralisia[14].

Qual o médico devo buscar em caso de suspeita de uma doença rara?

Como diversas doenças raras acometem crianças – 1 em 2 pacientes diagnosticados[15] -, o acompanhamento pré-natal é fundamental para a prevenção ou detecção de algumas condições. Outras doenças podem ser monitoradas por meio de acompanhamento regular no desenvolvimento da criança: caso haja infecções de repetição, problemas alimentares ou alterações cognitivas ou motoras, é indicada a investigação da causa[16].

Para a população adulta, o paciente deve ser encaminhado para investigação com especialista ou para emergência de acordo com o quadro clínico apresentado.

Alguns exemplos de especialidades médicas e de quais enfermidades tratam:

  • Neurologia: MGg e NMOSD
  • Oncopediatria e geneticista: neurofibromatose tipo 1
  • Hematologia: HPN
  • Nefrologia : SHUa

Referências

[1] Ministério da Saúde – Biblioteca Virtual em Saúde. Dia Mundial e Dia Nacional das Doenças Raras – último dia do mês de fevereiro. Disponível em https://bvsms.saude.gov.br/dia-mundial-e-dia-nacional-das-doencas-raras-ultimo-dia-do-mes-de-fevereiro/. Acesso em 22 de janeiro de 2024.

[2] Ministério de Saúde - Biblioteca Virtual em Saúde. 28/02 – Dia Mundial das Doenças Raras. Disponível em https://bvsms.saude.gov.br/28-02-dia-mundial-das-doencas-raras/. Acesso em 22 de janeiro de 2024.

[3] Interfarma – Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa. Doenças Raras: a urgência do acesso à saúde. Brasil: Edição Contrate 1 Ghostwriter Tatiane R. Lima – Mtb 36439, fevereiro de 2018.

[4] Genome. Rare Genetic Diseases. Disponível em: https://www.genome.gov/dna-day/15-ways/rare-genetic-diseases

[5] EURORDIS. Earlier, faster and more accurate diagnosis. Disponível em: https://www.eurordis.org/our-priorities/diagnosis/#:~:text=However%2C%20diagnosis%20of%20rare%20diseases,patients%20to%20get%20a%20diagnosis. Acesso em 29 de janeiro de 2024.

[6] Fermaglich. LJ. and Miller. K.L. A comprehensive study of the rare diseases and conditions targeted by orphan drug designations and approvals over the forty years of the Orphan Drug Act. Orphanet Journal of Rare Diseases. (2023) 18:163. https://doi.org/10.1186513023-025-02790-7

[7] Orphanet. About rare diseases. Disponível em https://www.orpha.net/consor/cgi-bin/Education_AboutRareDiseases.php?lng=EN Acesso em 29 de janeiro de 2024.

[8] Boyd K, et al. Neurofibromatosis type 1. J Am Acad Dermatol. 2009 July; 61(1): 1–16.

[9] Harrison SA. Management of Lysosomal Acid Lipase Deficiency for the Gastroenterologist and Hepatologist. Gastroenterol Hepatol (N Y). 2016;12(5):331-3.

[10] Raina R, Krishnappa V, Blaha T, Kann T, Hein W, Burke L, et al. Atypical Hemolytic-Uremic Syndrome: An Update on Pathophysiology, Diagnosis, and Treatment. Ther Apher Dial. 2019;23(1):4-21.

[11] Myasthenia Gravis Fact Sheet. (2020, April 27). National Institutes of Neurological Disorders and Stroke. Retrieved July 28, 2021, from https://www.

ninds.nih.gov/Disorders/Patient-Caregiver-Education/Fact-Sheets/Myasthenia-Gravis-Fact-Sheet.

[12] Ding J., Zhao, S., Ren, K., Dang, D., Li, H., Wu, F., Zhang, M., Li, Z., & Guo, J. (2020). Prediction of generalization of ocular myasthenia gravis under immunosuppressive therapy in Northwest China. BMC Neurology, 20(238). https://doi.org/10.1186/s12883-020-01805-1

[13] Brodsky RA. Paroxysmal nocturnal hemoglobinuria. Blood. 2014;124(18):2804-2811.

[14] Mutch K, et al. (2014). Life on Hold: The Experience of Living with Neuromyelitis Optica. Disabil Rehabil., 36(13), 1100-7.

[15] Global Genes. Rare Disease Facts. Disponível em: https://www.globalgenes.org/rare-disease-facts/ Acesso em 30 de janeiro de 2024.

[16] Ministério da Saúde. Linha de Cuidados Pessoas com Doenças Raras. Abril de 2022. Disponível em: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2022/06/1373179/linha_de-cuidado_pessoas_com_doencas_raras.pdf Acesso em 29 de janeiro de 2024.