60,4% dos jovens paulistanos de 15 a 24 anos atuariam como jovem-aprendiz, mas apenas 1,5% conseguem, aponta pesquisa do Juventudes Potentes

Estudo inédito, feito em parceria com a United Way Brasil e com a Lab&Tal Consultoria, ouviu 600 jovens de 15 a 29 anos nas regiões sul e leste da cidade de São Paulo sobre as percepções em relação à Lei de Aprendizagem

60,4% dos jovens paulistanos de 15 a 24 anos atuariam como jovem-aprendiz, mas apenas 1,5% conseguem, aponta pesquisa do Juventudes Potentes

Os jovens da cidade de São Paulo se veem trabalhando em empresas com contratos na modalidade de jovem aprendiz, mas tais oportunidades estão distantes da periferia paulistana diante do baixo acesso às vagas, falta de informação e conhecimento sobre programas de aprendizagem. Apesar de 60,4% de jovens de 15 a 24 anos terem interesse em ser jovem-aprendizes, apenas 1,5% nessa faixa etária trabalham e 5,1% já trabalharam a partir dessa modalidade de contratação. A conclusão é da pesquisa inédita Percepções e expectativas do jovem-potência sobre a Lei da Aprendizagem”, do movimento Juventudes Potentes, iniciativa articulada pela United Way Brasil, realizada em parceria com a Lab & Tal Consultoria. O estudo ouviu 600 jovens entre 15 e 29 anos das regiões sul e leste da cidade de São Paulo.

A pesquisa tem como objetivo captar e compreender as percepções, visões e expectativas dos chamados jovens-potência sobre os programas de aprendizagem profissional. Jovens-potência são considerados aqueles de 15 a 29 anos que vivem em regiões periféricas e enfrentam um contexto de desigualdades e racismo sistêmico, o que dificulta o acesso às oportunidades formais de trabalho e de estudo, colocando-os em situação de vulnerabilidade social.

O estudo revela que 74,2% dos respondentes consideram que o programa jovem aprendiz é um caminho para o primeiro emprego que pode interessar e atrair os jovens das periferias. No entanto, tais vagas não alcançam esses jovens. Por isso, 56,2% acreditam que as oportunidades poderiam surgir a partir da melhoria de divulgação das vagas; para 46,3% por meio de parcerias entre escolas e organizações formadoras; para 42,7% ampliando as vagas em empresas próximas das periferias; e para 30,7% se as empresas fizerem um processo seletivo menos exigente

A contratação de jovem aprendiz pode ser feita para aqueles entre 14 e 24 anos, que estejam cursando o ensino fundamental ou médio, ou já tenham concluído, e está prevista na Lei do Aprendiz, nº 10.097/2000. Uma das descobertas do levantamento foi a falta de compreensão sobre os direitos atrelados à posição de jovem aprendiz. Dos entrevistados, 33,8% achavam que o jovem aprendiz pode cumprir horas-extra no trabalho e receber por elas. No entanto, isso é proibido por lei. Além disso, 26,8% acreditavam ser obrigatório comprovar renda para se candidatar a uma vaga nessa modalidade de contratação, enquanto, na verdade, não é preciso; para 24,7% o jovem aprendiz não teria direito a férias e FGTS, mas tem.

Para Nayara Bazzoli, gerente geral do Juventudes Potentes, a baixa aderência das empresas em relação à Lei da Aprendizagem e o desconhecimento sobre os benefícios envolvidos na posição são uma lacuna a ser melhorada no setor produtivo. “A contratação como jovem-aprendiz pode ser uma importante porta de entrada no mundo do trabalho com dignidade para jovens-potência. No entanto, essas oportunidades não estão chegando e é fundamental que as empresas atuem para otimizar essa modalidade de contratação nas corporações. É preciso compromisso para fortalecer esse programa, previsto em lei, para que as vagas cheguem aos jovens, especialmente àqueles que vivem nas periferias”.

Para quase 1/3 dos jovens consultados, a falta de experiência e qualificação profissional é um obstáculo para o ingresso efetivo no mercado de trabalho. No caso das periferias, há um agravante: os jovens têm uma percepção de concorrência injusta com os demais, segundo 84,8% dos entrevistados. As vagas de jovem aprendiz poderiam ajudar a corrigir esse quadro, mas 25% dos entrevistados nunca souberam de oportunidades na categoria. “O que constatamos foi um cenário de considerável insegurança entre os jovens-potência por falta de experiência e qualificação profissional. O programa de aprendizagem surge, então, como uma excelente oportunidade de inserção formal para quem está mais precisando, além de contribuir com um legado de desenvolvimento e experiência ao redor disso”, afirma Bazzoli

Do total de jovens entrevistados, 32% não estavam trabalhando, 22,2% estavam procurando trabalho e 24,3% estavam em trabalhos informais. Destaca-se, ainda, que 30% têm responsabilidade total sobre as contas da casa e mais de 23% afirmam não conhecer ninguém que consideram bem-sucedido.  O estudo mostra, também, que para 41,2% a independência financeira é uma das principais preocupações imediatas na busca por emprego, e para 31,8% é um bom ou melhor salário.      

Fortalecimento da aprendizagem

O levantamento traz, ainda, recomendações de práticas para otimizar o ingresso dos jovens-potência no mercado de trabalho a partir do programa de aprendizagem. Entre elas estão medidas como melhorias no processo seletivo; na formação teórica oferecida por organizações certificadoras; na alocação, acompanhamento e supervisão dos jovens aprendizes no cotidiano da empresa; o estabelecimento de um plano de desenvolvimento dos jovens aprendizes, com incentivos e feedbacks; e a adoção de ações para aumento do senso de pertencimento e permanência de jovens talentos.