Os efeitos das cotas no perfil do aluno de ensino superior

Desde 2012, as porcentagens de estudantes pretos e pardos no ensino superior mais que triplicaram, aumentando de 135 para 515 mil alunos

Os efeitos das cotas no perfil do aluno de ensino superior

A lei das cotas, instituída em 2012 no país, alega que 50% das vagas totais das universidades devem ser destinadas para alunos da rede pública. Para efeito de comparação, em 2009, quando houve a primeira consulta sobre raça/cor dos alunos, 135 mil estudantes se declararam como pretos e pardos, segundo Em 2022, 13 anos depois, o número mais que triplicou para 515 mil. Analisando pelas porcentagens, saltou de 13% para 49% dos matriculados no ensino superior, segundo estudo feito pelo Sou Ciência, vinculado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), com base em dados do Censo do Ensino Superior realizado anualmente pelo MEC.

Tendo em vista a diversificação de opiniões sobre o tema, o Datafolha realizou uma pesquisa que apontou que cerca de 42% das pessoas acreditam que a lei deveria existir para os estudantes de escola pública, e apenas 15% afirmaram que não deveria haver nenhuma reserva de vagas. No total, a pesquisa apontou 83% da população como favorável às cotas, em geral. 

Rodrigo Bouyer, avaliador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e sócio diretor da BrandÜ Consultoria Educacional e da Somos Young explica o lado favorável das cotas para os estudantes: “As cotas fazem parte de um contexto sócio-político importante e representam, de fato, uma reparação social histórica que o país deve às porções da população que não gozam do direito de equidade no acesso ao ensino superior e a outros espaços relevantes da sociedade. A diversidade deve ocupar os espaços das universidades, enriquecendo os debates, propondo inovação sob novas perspectivas e oportunizando desenvolvimento social, dignidade e bem-estar a todos os cidadãos brasileiros”. 

Entretanto, o critério racial é um divisor de águas, 41% dos que aprovam as cotas são contra a raça ser um dos critérios, porém, favoráveis ao modelo social. Isso significa que há um apoio às vagas destinadas para aqueles matriculados em escolas públicas, independentemente da cor e da raça do estudante. 

Os afetados pela política apresentam um grande apoio a esse modelo de ingressar na universidade. Além das cotas, aumentaram os números de estudantes pretos e pardos por vagas de amplo acesso - não contempladas vagas destinadas aos cotistas- uma reverberação a longo prazo da política pública. Entre os estudantes, 53% apoiam a divisão de vagas com questões tanto raciais quanto sociais;  já 47% das pessoas pretas e pardas apoiam essa decisão.  A idade também é um fator de grande influência, quanto mais velho maior a rejeição. Entre a população com mais de 60 anos, 21% são contrárias a qualquer modelo de reserva de vagas. Isso significa uma diferença de, aproximadamente, 12% quando comparado com o índice de rejeição entre os jovens de 16 a 24 anos, que totaliza 9%. 

Ao  analisar o viés eleitoral, é perceptível, também, uma diferença. Aqueles que votaram no Lula (PT) apresentam 55% de apoio à lei da maneira que é exercida atualmente, e apenas 8% se opõem a qualquer tipo de cota. Por outro lado, 30% dos eleitores de Jair Bolsonaro apoiam o modelo atual , e a rejeição para qualquer modelo de reserva de vagas alcança os 21%. E com a mudança do governo, houveram novas ações para incentivar essa equalização, como o Pé de Meia, lançado neste ano pelo governo Lula. O programa consiste em uma bolsa mensal de R$200 para os alunos do ensino médio para que não abandonem a escola, além de contarem com um depósito anual de R$1.000. O dinheiro só pode ser resgatado depois que o aluno se forma. Uma forma de tentar manter o jovem no colégio e incentivar para que ingresse no ensino superior.