Festival Feira Preta 2024: Nós somos nossas origens!

Nunca a África foi tão paulistana nesse final de semana! Acompanhe com o Correio e veja como foi!

Festival Feira Preta 2024: Nós somos nossas origens!

Por Camilla Sedrez e Guilherme Conde

São Paulo (SP) - Quando se fala em economia criativa, não há mais nada criativo do que remodelar mercados com um toque de ancestralidade.

Aconteceu, entre 03 e 05 de maio de 2024, o Festival Feira Preta, no Ibirapuera Parque, Zona Centro-Sul de São Paulo.

Idealizado por Adriana Barbosa há 23 anos, mas com a 1ª cobertura do Correio, o Festival contou com diversos empreendedores, artistas, tanto nacionais, como estrangeiros. Estrangeiros não, originários da terra-mãe.

Você deve se perguntar: "terra-mãe"? Sim, o Festival Feira Preta trouxe um pedaço da África através de seus expositores e artistas, seja por suas origens familiares, ou de nacionalidade. Tivemos representantes de Gana e Burkina Faso entre os expositores, foi muito interessante mesmo!

Se você já está aconstumado com nossas coberturas, sabe que selecionamos destaques, certo? Pois bem, não precisamos dizer que foi bem difícil selecionar, tinha muita coisa boa!

Nascida na área do Samba

Nosso primeiro destaque vai para a cerveja Bola Véia, nascida na Casa Verde, Zona Norte de São Paulo. Mas, por quê "área do samba"? Vamos tentar explicar para quem não é paulistano, ou quem para não está acostumado.

A Casa Verde é a região que mais abriga escolas de samba entre as escolas que participam dos dois principais Grupos do Carnaval Paulistano. São elas: Mocidade Alegre (atual campeã), Morro da Casa Verde, Império da Casa Verde (sim, aquela escola cujo integrante rasgou as notas!), Unidos do Peruche, entre outras. Sem contar a Rosas de Ouro, que é da Freguesia do Ó, mas é pertinho da Casa Verde.

Futebol e cerveja tem tudo a ver com a Casa Verde. Aliás, o bairro foi importante para o São Paulo Futebol Clube. Antes do segundo (e último) jogo da final do Campeonato Brasileiro de 1977, o então volante Muricy Ramalho (hoje coordenador técnico do mesmo clube) teve que procurar o atacante Serginho Chulapa, que não iria jogar. Mas o técnico Rubens Minelli (de abençoada memória) teve que blefar porque o adversário, o poderoso Atlético Mineiro, tinha Reinaldo, o principal trunfo do Galo, junto com Toninho Cerezo.

Minelli mandou Muricy achar Chulapa. E adivinham onde estava o atacante? O resto é história!

Com toda essa mística, falamos com Rogério "Ferradura", idealizador da marca que contou em nosso Instagram, como surgiu a idéia da cerveja, que tem três rótulos: Bola Véia (Witbier), Blém-Blom (IPA) e Varzeana (Pilsen).

(Rogerinho "Ferradura", da Cerveja Bola Véia/Foto: Camilla Sedrez)

Se você gosta dessas paixões genuinamente brasileiras, experimente a Bola Véia! Torcendo para o seu time do coração, seja ele grande, de bairro, ou de quebrada! (Sim, bairro, para muitos é uma coisa, quebrada para outros, é muito diferente!)

Da dor à liberdade

No pavilhão destinado aos empreendedores, teve muita movimentação de famílias, crianças e pets. E justamente sobre nossos melhores amigos, é que há relação com este destaque.

Conhecemos a Madiba Pet, marca de artigos voltados ao universo pet. Coleiras, camas, guias, proteções... Tudo para o seu cão ou seu gato! Mas, exatamente não eram os artigos que nos chamaram a atenção. E sim, a história.

Tivemos a oportunidade de conversar com as irmãs Paloma e Samara Lima, que nos explicaram o motivo da marca ter sido criada. Baseados em Taboão da Serra, cidade da Grande Oeste, Região Metropolitana de São Paulo, foi a partir de uma tragédia, que tudo aconteceu.

Mandela, o cachorro de Samara, que era sem raça definida (SRD) - chamado popularmente de "vira-lata" - acidentalmente, soltou-se de sua guia, e foi atropelado bem em frente à casa da família por um ônibus. Indignada e tomada pelo luto, Samara teve a ideia de desenvolver artigos voltados ao mundo pet da mais alta qualidade, e com estampas características do continente de onde era a inspiração para o nome do cãozinho.

(Levi Costa e Samara Lima, fundadora da Madiba Pet/Foto: Guilherme Conde)

Como sabemos, Nelson Rohilahla Mandela era chamado de Madiba, que era o seu nome tribal. Inclusive, no estande da Madiba Pet, tinha um cartaz "quem somos" contando a história da marca. Com a imagem do ex-presidente sul-africano, que passou anos na prisão, e se tornou o 1º chefe de estado de origem verdadeiramente africana em um país africano.

Uma história que honra muito, o legado de um dos maiores personagens do continente africano, e do mundo, sem dúvidas.

Protegendo o Quilombo

A comunicação é muita variada, existem múltiplos termos e conceitos. O mais comum? A comunicação não-violenta (CNV), por exemplo. Agora, o termo "comunicação ancestral", foi uma novidade para nós.

Quem nos explicou sobre o conceito, foi Melissa Santos, gestora de comunidade da Bioma Comunicação Ancestral, plataforma voltada aos profissionais da comunicação de origem africana, originária e LGBTQIA+, justamente para mostrar aos mercados, a importância da ancestralidade e também, a particularidade da população afro-brasileira. Vamos lembrar que, o Brasil, é o maior país fora da África. Somente em termos de população, o Brasil fica próximo da Nigéria se estivesse no continente localizado ao oriente do Atlântico.

Falamos em importância e particularidade da população afro-brasileira, certo? A partir da plataforma da Bioma, foi idealizado e desenvolvido, um cenário inspirado em nossa história dentro de um dos maiores jogos da atualidade, o Fortnite.

(Melissa Santos, da Bioma Comunicação Ancestral/Foto: Guilherme Conde)

No estande da Bioma Comunicação Ancestral, nós - e os demais visitantes - tivemos a oportunidade de defender Palmares no Fortnite nos skins (personagens) de Dandara e Zumbi dos Palmares. Dos livros de história para os games. Mais particularidade que isso, impossível!

A ComunicaConde Marketing & Imprensa, agência mantenedora do Correio, apoia a Bioma Comunicação Ancestral com muito entusiasmo! Trabalho extremamente necessário!

Cuidado na hora de cuidar

Evidente que a saúde não poderia ficar de fora do Festival Feira Preta. Ainda mais que, durante a alta época da pandemia de coronavírus, a faixa população que mais sofreu, foi a população afro-brasileira e periférica. Além da mesma população ser mais propensa a ter problemas cardíacos e de pressão alta.

Conhecemos o Instituto Afro Amparo Saúde, através de seu presidente e idealizador Paulo Romualdo. O instituto funciona como qualquer outro instituto de assistência médica, mas, voltamos à particularidade. Os especialistas - que são diversos - são de origem africana. Nutricionistas, psicólogos, pediatras, dentistas, entre outros. Todos com uma identificação ainda mais próxima com aqueles que mais procuram o Sistema Único de Saúde. O instituto é uma espécie de plano de saúde mesmo, ou seja, quem puder arcar com os serviços dos especialistas, ótimo, mas quem não puder, o instituto destina ao atendimento social, de acordo com a agenda dos especialistas.

(Paulo Romualdo, idealizador e presidente do Instituto Afro Amparo Saúde/Foto: Guilherme Conde)

"Não falamos em saúde humanizada, porque já estamos a cuidar de um ser humano. O que falamos, é sobre saúde direcionada!", disse Romualdo aos repórteres do Correio. "Temos um grupo de masculinidades, muito do que acontece com a mulher, não somente sobre violência doméstica, mas em outros casos, tem tudo a ver com a saúde mental do homem", completa o presidente do Instituto.

Vale muito a pena conhecer!

Liberar para melhorar

Sabemos que no estado de São Paulo, desde a última quarta (1º), é possível solicitar ao SUS, medicamentos à base de cannabis. Muito por iniciativa do próprio governador do estado Tarcísio de Freitas (Republicanos), pois em sua família, foi necessário a utilização deste tipo de remédio.

Nessa esteira, conhecemos a Ganja Preta. Calma! Não é banda de reggae, nem muito menos um grupo de usuários afro que só querem se juntar para fumar. Muito longe disso. Longe mesmo!

A Ganja Preta é uma consultoria médica (sim! é verdade!) onde pacientes de várias enfermidades diferentes, procuram-os para ter acesso aos medicamentos manipulados, e não somente isso, os pacientes, através da Ganja Preta, podem ter acesso a um Habeas Corpus preventivo que permite a plantação doméstica da cannabis para fins medicinais.

(Ganja Preta: Direito cannábico de preto pra preto/Foto: Guilherme Conde)

Não apenas o Felipe nos explicou o que é a Ganja Preta, mas também, tivemos uma verdadeira aula do Doutor Guilherme Macedo, advogado que cuida da parte jurídica da Ganja Preta, que nos explicou, entre outras coisas, a questão étnico-racial dentro do assunto. 

(Rápida pesquisa sobre a descriminalização da Cannabis: precisa mesmo perguntar?/Foto: Guilherme Conde)

Sem dúvida nenhuma, é questão de saúde pública que precisa ser tratada com atenção, e sem preconceito. Por todas as vertentes políticas da sociedade. Ou o atraso permanece, com presídios lotados.

Um sonho brilhante

O Festival Feira Preta começou na sexta (03), o que deu para selecionarmos melhor nossos destaques. Foi na própria sexta, que encontramos nosso primeiro destaque. Enquanto fazíamos nossa visita ao pavilhão dos empreendedores, como tudo respirava ancestralidade, rapidamente vimos colares bonitos e a palavra "Congo" em uma placa.

Nesta mesma placa, que explicava a coleção, uma grande surpresa: todas as peças que ali estavam eram feitas de... papel!

Imediatamente, procuramos a joalheira para nos explicar tudo aquilo. Gabriella Santos, mineira de Belo Horizonte, nos explicou de maneira simples: "tive um sonho com essas formas, corri atrás, e comecei a fazer!"

(A joalheira mineira Gabriella Santos/Foto: Guilherme Conde)

Colares, brincos, pingentes, tudo em seu estande era brilhante, mas feito de algo tão comum a todos nós. Inclusive, as "eco-jóias", como ela mesmo nos mostrou. Não era preciso dizer que o estande de Gabriella foi um dos mais movimentados de todo o pavilhão. Os visitantes, incrédulos - assim como estes repórteres - ao perceber que todas aquelas peças incríveis tinham o papel como protagonista.

Lembram? Particularidade da população afro-brasileira! Particularidade esta que Adriana Barbosa faz questão, há 22 anos, de reunir empreendedores de origem africana que fomentam a economia criativa. Quem se impressionou e se divertiu com toda a estrutura do festival, não se lembra (ou não sabe), que tudo começou em uma praça.

O Festival contou com fortes patrocinadores, como Vivo, Unilever e Mercado Livre, com shows de Mart'nália, Marcelo D2 (que fechou o sábado e cujo som deu pra ouvir até fora do parque), Tasha e Tracie, Luedji Luna.

Mas foi em 2002, no ano em que a Seleção Brasileira levantava sua última Copa do Mundo, em que Barbosa começou a reunir pequenos empreendedores afro-paulistanos na Praça Benedito Calixto (importante ponto cultural de Pinheiros, Zona Centro-Oeste). 23 edições depois, no principal parque da maior cidade do país, a Feira Preta tornou-se o principal festival étnico de cultura e economia criativa da América Latina.

Muita história, não é? Isso que o Correio só contou 2024! Esperamos te contar muito mais em 2025! Não deixe de nos acompanhar!

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