Como abordar temas delicados com as crianças

Como abordar temas delicados com as crianças

*Por Ana Paula Yazbek

Nada mais natural do que a curiosidade dos pequenos quando eles começam a fazer perguntas assim que aprendem a falar. É uma fase em que querem saber todos os detalhes das coisas e cabe aos adultos responder essas questões. Porém, a partir de certa idade, elas começam a fazer perguntas sobre temas mais delicados e aí surgem as dúvidas de como respondê-las. 

O interesse vai além de perguntas básicas do tipo “como nascem os bebês”. Depois de anos de pandemia, cenas de guerra ao redor do mundo e impactos profundos das mudanças climáticas, como o desastre recente no Rio Grande do Sul, é necessário que sejam respondidos questionamentos sobre esses assuntos também. 

Parte da missão de educar uma criança consiste em prepará-la para o mundo e esbarrar em assuntos difíceis faz parte desse trabalho. Questões sobre sexo, sexualidade, divórcio, guerras, morte, uso de drogas, catástrofes climáticas e outros assuntos difíceis e polêmicos alcançam diariamente as famílias por diversos canais de notícias e relacionamentos. É muito importante saber como lidar com esses temas e tratá-los de forma que a criança entenda, mas que não piore a situação, deixando mais dúvidas ou confundindo a cabeça delas. 

Uma maneira interessante de lidar com esses assuntos é por meio de filmes e livros infantis mostram abandono, morte, guerras ou doenças, tudo sendo exposto de forma um pouco disfarçada. As crianças conseguem lidar melhor com assuntos difíceis quando eles chegam com uma roupagem lúdica

Os livros são uma ótima porta de entrada para falar de temas delicados. Assim como nos contos de fadas, a vida também se depara com altos e baixos antes do desfecho final. Porém, apesar de ser recomendado o uso da fantasia para explicar esses temas, é importante também conversar e não somente expor o assunto. Também é importante deixar claro que não existem apenas finais felizes. O momento ideal para tratar sobre temas delicados é quando a criança pergunta sobre eles, mas não é necessário explicar tudo de uma vez, sobretudo para não gerar ansiedade. 

Cada fase do pequeno vai gerar um tipo de questionamento e uma abordagem diferente sobre o assunto. Por exemplo, quando se trata de sexo, é possível dizer às crianças pequenas que é um momento de amor e intimidade entre casais que acontece na vida adulta. Quando se trata de um pré-adolescente, já é possível falar sobre gravidez, doenças sexualmente transmissíveis e o momento certo para se relacionar. As drogas são um assunto que deve ser explorado assim que a criança começar a sair sozinha com os amigos. Falar sobre os malefícios de entorpecentes e de como se proteger em festas, por exemplo, é essencial. 

Algumas crianças tiveram que lidar com o sentimento de perda ao longo da pandemia ou se deparam com cenas de catástrofes ambientais. A morte é um tema que já pode ser tratado a partir dos 4 anos, quando começamos a ter noção desse sentimento. É possível comparar a vida humana com a de uma planta, conectando-se com o funcionamento dos ciclos da natureza. Esta mesma natureza precisa ser cuidada e preservada para manter-se em pé. As metáforas nesse caso, são ricas para essa conversa. O mais importante é que se tenha consciência de que as crianças são capazes de compreender as coisas com mais profundidade do que muitas vezes supomos. O que elas precisam é que tudo seja dito na linguagem e no tempo delas. 

(*) Mestre em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), especialista em educação de crianças de zero a três anos pelo Instituto Singularidades, e diretora do Espaço ekoa.