O câncer Ă© a segunda doença que mais mata no mundo. De acordo com dados da Organização Mundial da SaĂșde (OMS), são registrados 9,6 milhões de óbitos por ano. Esse nĂșmero bastante elevado se deve, em grande parte, aos diagnósticos tardios, nos quais a doença jĂĄ estĂĄ em estĂĄgio avançado, alĂ©m de casos em que o tratamento não se mostra mais eficaz.
Fevereiro Ă© o mĂȘs mundial dedicado ao combate ao câncer, uma iniciativa da União Internacional para Controle do Câncer (UICC), com apoio da Organização Mundial da SaĂșde (OMS). O objetivo Ă© ampliar a conscientização e a educação sobre a doença em diversos paĂses, alĂ©m de incentivar a adoção das diferentes formas de tratamento disponĂveis atualmente.
Segundo Pedro Sabaciauskis, fundador e presidente da Santa Cannabis - associação sem fins lucrativos dedicada ao estudo e à distribuição legal de CBD e THC para pacientes com indicação mĂ©dica -, apesar do preconceito e da descrença de parte da população, a cannabis medicinal tem se mostrado uma opção eficaz para o tratamento de alguns tipos de câncer, trazendo benefĂcios a diversos pacientes.
Pedro explica que a cannabis medicinal pode atuar como uma terapia complementar valiosa, ajudando a melhorar a qualidade de vida. "O nosso organismo possui receptores canabinoides, que, ao serem ativados pelos compostos presentes na cannabis, ajudam a interromper a dor e reduzir inflamações, proporcionando um efeito analgĂ©sico e melhorando o bem-estar do paciente", afirma.
Os canabinoides tĂȘm demonstrado eficĂĄcia na redução dos efeitos colaterais de tratamentos agressivos, como quimioterapia e radioterapia, aliviando sintomas como dores, nĂĄuseas e vômitos. AlĂ©m disso, hĂĄ fortes indĂcios de que seu uso contribui para a melhora do sono e da saĂșde mental, reduzindo a insônia e a ansiedade em pacientes oncológicos. Outra possĂvel vantagem Ă© a diminuição da necessidade de opioides, proporcionando um alĂvio significativo dos sintomas e melhorando a qualidade de vida.
AlĂ©m do alĂvio dos sintomas, pesquisas indicam que compostos como THC e CBD podem desempenhar um papel direto no combate a alguns tipos de câncer, incluindo gliomas, tumores cerebrais, câncer de mama e leucemia. Estudos sugerem que esses canabinoides ajudam a reduzir o crescimento tumoral, impedir a metĂĄstase e potencializar a eficĂĄcia de tratamentos convencionais, como quimioterapia e radioterapia. Outras investigações apontam benefĂcios no melanoma, mieloma mĂșltiplo, câncer de cólon e de próstata, com evidĂȘncias de que podem retardar a progressão da doença.
Gabriela Kreffta, tĂ©cnica farmacĂȘutica da associação, reforça que THC e CBD não são os Ășnicos compostos da cannabis com propriedades terapĂȘuticas. De acordo com ela, substâncias como CBG, CBC e CBN tambĂ©m apresentam potencial no tratamento do câncer. "O CBG tem se mostrado eficaz na inibição da proliferação de cĂ©lulas tumorais, como no câncer colorretal, e possui ação anti-inflamatória. O CBC contribui para a redução do crescimento celular e a indução da apoptose, e o CBN, derivado do THC, tem efeitos sedativos e analgĂ©sicos, auxiliando no controle da inflamação e do estresse oxidativo", diz.
Com o avanço das pesquisas no Brasil e no mundo, a cannabis medicinal tem cada vez mais se consolidado como uma alternativa bastante promissora no alĂvio dos sintomas e no suporte ao tratamento do câncer, podendo ser utilizada em diferentes casos. No entanto, seu uso apresenta uma sĂ©rie de desafios, como possĂveis interações com medicamentos e efeitos adversos, incluindo sonolĂȘncia.
Por isso, Pedro faz um alerta sobre a necessidade de não utilizar medicamentos sem a devida prescrição. "Apesar de sabermos que a cannabis medicinal pode ser muito positiva para o tratamento de algumas doenças, cabe ao mĂ©dico avaliar cuidadosamente os riscos e benefĂcios, garantindo assim um uso muito mais seguro e adequado às necessidades de cada paciente", finaliza.