O perĂodo de carnaval registra um crescimento significativo nos crimes contra mulheres e adolescentes impulsionado pela combinação de grandes aglomerações, consumo excessivo de ĂĄlcool e a sensação de impunidade. AssĂ©dios, importunações sexuais, violĂȘncia domĂ©stica e feminicĂdios são algumas das ocorrĂȘncias mais comuns neste perĂodo.
Dados do MinistĂ©rio da Justiça e Segurança PĂșblica apontam que, em 2024, o Brasil registrou mais de 78 mil casos de estupro, uma mĂ©dia de nove por hora. Do total, 67.820 vĂtimas são mulheres. O levantamento tambĂ©m aponta que, no mesmo perĂodo, 1.400 casos de feminicĂdio foram registrados em todo o paĂs.
Diante dessa realidade, a ONG Ficar de Bem, organização que atua no combate à violĂȘncia e na assistĂȘncia a mulheres violadas em seus direitos, reforça a importância de medidas preventivas e de apoio às vĂtimas. "O aumento desses crimes, em especial no carnaval, reflete a cultura da impunidade e a naturalização da violĂȘncia contra a mulher. Ă imprescindĂvel que haja conscientização, fiscalização e punição rigorosa para os agressores", afirma Melissa Terron, superintendente da Ficar de Bem.
O assĂ©dio e a importunação sexual tambĂ©m são prĂĄticas recorrentes durante o carnaval e podem ser denunciadas, apoiadas na Lei de Importunação Sexual n° 13.718/2018, que prevĂȘ prisão para quem comete atos libidinosos sem o consentimento, ou seja, beijos forçados, apalpadelas, puxões de roupa, exposição de genitĂĄlia em pĂșblico e "encoxadas" são considerados crimes e passĂveis de punição.
"Muitas pessoas ainda vĂȘem essas atitudes como normais ou esperadas em meio à folia, mas elas representam uma violação do direito das mulheres à segurança e à liberdade", ressalta Melissa.
Para apoiar mulheres que sofreram qualquer tipo de violĂȘncia, a Casa da Mulher Paulista, projeto da ONG Ficar de Bem na região do Grande ABC, oferece assistĂȘncia integral, em parceria com a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM), Juizados Especiais, MinistĂ©rio PĂșblico e a Defensoria PĂșblica. O espaço funciona como um centro de apoio para vĂtimas de agressões fĂsicas, psicológicas e sexuais, garantindo atendimento sigiloso e acompanhamento jurĂdico e psicossocial.
"O medo e a vergonha impedem muitas mulheres de buscar ajuda. Na Casa da Mulher, elas encontram um ambiente seguro, onde podem relatar suas experiĂȘncias sem julgamento e receber o suporte necessĂĄrio para reconstruir suas vidas", comenta Terron.
A Ficar de Bem reforça a importância da denĂșncia como forma de enfrentar a violĂȘncia. "O silĂȘncio protege os agressores e perpetua o ciclo de violĂȘncia. Denunciar Ă© um ato de coragem e um passo fundamental para que a justiça seja feita", reforça a superintendente.
Vale destacar que a denĂșncia pode ser realizada pelos canais Disque 100, 180 ou 190, que direcionam as informações aos órgãos competentes, como a polĂcia ou o MinistĂ©rio PĂșblico. TambĂ©m Ă© possĂvel registrar a denĂșncia diretamente em uma delegacia ou em uma Promotoria de Justiça local.
Após o registro da ocorrĂȘncia, as vĂtimas podem ter acesso a medidas protetivas, acompanhamento psicológico, assistĂȘncia jurĂdica e atendimento mĂ©dico para profilaxia contra doenças sexualmente transmissĂveis e, se necessĂĄrio, interrupção da gravidez nos casos previstos em lei.
"A segurança Ă© direitos sociais das mulheres precisam de polĂticas pĂșblicas efetivas, fiscalização rigorosa e uma sociedade que se comprometa a não tolerar nenhuma forma de violĂȘncia de gĂȘnero", conclui a superintendente da Ficar de Bem.