Por NathĂĄlia Albuquerque Lacorte Borelli*
O Sport Club Corinthians Paulista requereu o Regime Centralizado de Execuções (RCE) e, simultaneamente, pleiteou a tutela antecipada para suspender as execuções e o prazo para apresentação de seu plano de pagamento.
O RCE, como indica o próprio nome, visa centralizar todas as execuções contra a associação devedora em um Ășnico processo. Essa centralização Ă© supervisionada por um juiz centralizador, que aprova um plano de pagamento especĂfico e assegura o cumprimento das obrigações financeiras da parte devedora.
O clube informou que, nos Ășltimos seis anos, seu endividamento cresceu de forma exponencial, passando de R$ 477 milhões em 2018 para R$ 991 milhões em 2020, e alcançando R$ 1,7 bilhão em 2024, excluindo a dĂvida com a Caixa Econômica Federal. Considerando o endividamento relacionado à arena, a dĂvida total atinge R$ 2,4 bilhões.
Com o RCE, o Corinthians pretende reorganizar seu passivo acumulado, reunindo as principais dĂvidas cĂveis em execução judicial ou com potencial para novas ações judiciais. O clube tambĂ©m buscarĂĄ solucionar dĂvidas tributĂĄrias, trabalhistas, com garantia real e desportivas, incluindo aquelas sujeitas à Câmara Nacional de Resolução de Disputas (CNRD) e à FIFA. AlĂ©m disso, a associação revelou que seu fluxo de caixa estĂĄ deficitĂĄrio, com projeções que indicam insuficiĂȘncia para cobrir obrigações de curto prazo, como folha salarial e compromissos operacionais.
No tocante à viabilidade econômica, o clube destacou a força da marca "Corinthians" e apresentou estratĂ©gias para aumento de receitas, como expansão de publicidade, bilheteria, programas de sócio-torcedor e renegociação de contratos de material esportivo. TambĂ©m apontou uma esperada redução de custos por meio de reorganização administrativa e racionalização de gastos no futebol profissional e em despesas gerais. As projeções indicam que essas medidas reduzirão a necessidade de antecipação de receitas atĂ© 2025, proporcionando maior estabilidade operacional.
A questão principal era se o Sport Club Corinthians poderia ser beneficiado pelo Regime Centralizado de Execuções. O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), no recurso n.Âș 2364688-24.2024.8.26.0000, decidiu que o clube, por ser classificado como associação civil dedicada ao fomento do futebol, pode ser beneficiado pelo regime previsto na Lei n.Âș 14.193/2021. AlĂ©m disso, o tribunal entendeu que o pedido encontra respaldo no artigo 13, I, da referida lei, que permite tanto ao clube como à pessoa jurĂdica original, e não apenas às sociedades anônimas de futebol, o pagamento de suas obrigações diretamente aos credores ou por concurso de credores no âmbito do RCE.
Quanto ao pedido de suspensão das execuções, o tribunal determinou que ele fosse analisado pelo juĂzo centralizador.
Assim, o clube ajuizou pedido de tutela de urgĂȘncia para suspender as execuções e medidas constritivas atĂ© a apresentação do plano de pagamento, conforme o RCE. Nos autos n.Âș 1189761-87.2024.8.26.0100, em 2 de dezembro de 2024, o pedido foi deferido. O juĂzo advertiu que, caso o clube não apresente o plano no prazo legal ou deixe de cumprir as obrigações assumidas, as execuções poderão ser retomadas, e novas medidas constritivas poderão ser determinadas.
Devido à complexidade do caso, foi nomeado um administrador judicial, mesmo sem previsão expressa na lei. Esse profissional serĂĄ responsĂĄvel por analisar as ações sujeitas aos efeitos do RCE e às preferĂȘncias legais para o recebimento de crĂ©dito, conforme o artigo 18. Sua função inclui verificar a veracidade da lista de credores apresentada, fiscalizar o cumprimento do plano de pagamento, alĂ©m de avaliar os direitos e obrigações previstos no artigo 10 da Lei n.Âș 14.193/2021. O objetivo principal Ă© garantir transparĂȘncia no procedimento, correção nos pagamentos e conduta Ă©tica de todas as partes envolvidas.
(*) Advogada especializada em Direito TributĂĄrio e gestora jurĂdica do escritório Yuri Gallinari Advogados.