Um apagão de grandes proporções atingiu Portugal e Espanha nesta segunda (28), interrompendo o fornecimento de energia elĂ©trica e serviços de telecomunicações em diversas regiões. A falha, que teve inĂcio por volta das 11h30 (horĂĄrio de Lisboa), afetou sistemas de transporte, hospitais e redes móveis, gerando caos e incerteza sobre a causa do incidente.
Nos aeroportos, a situação foi particularmente crĂtica. Em Lisboa, as operações foram suspensas por volta das 13h, enquanto os aeroportos do Porto e Faro funcionaram com geradores de emergĂȘncia. Na Espanha, cidades como Madrid e Barcelona tambĂ©m enfrentaram interrupções nos serviços aeroportuĂĄrios.
"Em caso de cancelamento de voo por falha tĂ©cnica ou energĂ©tica, os direitos dos passageiros são muito semelhantes aos aplicĂĄveis em cancelamentos comuns. O passageiro terĂĄ direito de escolher entre a reacomodação gratuita, por qualquer companhia que tenha disponibilidade, na primeira oportunidade, mantendo a origem e o destino da viagem, ou o reembolso integral da passagem", explica Rodrigo Alvim, advogado especializado em direito aĂ©reo.
Durante o perĂodo em que o voo estiver cancelado ou atrasado, a companhia aĂ©rea tambĂ©m deve fornecer assistĂȘncia material. Isso inclui auxĂlio para comunicação (como acesso a Wi-Fi de melhor qualidade), vouchers para alimentação e, se necessĂĄrio, hospedagem em hotel e transporte de ida e volta para o hotel. "Caso o passageiro esteja em uma conexão e prefira retornar para casa, ele poderĂĄ solicitar o reembolso integral, alĂ©m do transporte atĂ© o local de origem", complementa o especialista.
Esses direitos se aplicam independentemente de a causa do problema ter sido uma falha elĂ©trica ou outra questão tĂ©cnica. A grande diferença surge no desdobramento da situação: se a companhia aĂ©rea acomoda o passageiro no primeiro voo disponĂvel e presta toda a assistĂȘncia devida, não hĂĄ o que se falar em indenização por danos morais, jĂĄ que o fato se configura como um fortuito externo, pelo qual a companhia não responde.
"PorĂ©m, se a companhia deixar de prestar a assistĂȘncia necessĂĄria, demorar excessivamente para reacomodar o passageiro (por exemplo, alocando em um voo dois dias depois, mesmo havendo opções anteriores disponĂveis), pode haver a configuração de danos materiais e morais, passĂveis de indenização", completa.
As autoridades investigam as causas do apagão. Enquanto a hipótese de um incĂȘndio em linhas de alta tensão no sul da França Ă© considerada, não se descarta a possibilidade de um ciberataque.
Cibersegurança: um alerta para infraestruturas crĂticas
Para o sócio do escritório Godke Advogados e especialista em cibersegurança Alexander Coelho, o apagão serve como um alerta sobre a fragilidade das infraestruturas crĂticas diante de ameaças digitais.
"O apagão traz à tona Ă© o reconhecimento da cibersegurança como direito fundamental. Em Portugal, essa proteção jĂĄ estĂĄ prevista constitucionalmente, o que cria uma obrigação positiva do Estado em prevenir, proteger e reagir a ameaças cibernĂ©ticas de maneira eficaz. Em tempos de hiperconectividade, omissões nessa ĂĄrea deixam de ser meros lapsos administrativos e passam a configurar violações de direitos essenciais dos cidadãos", explica o advogado.
"Não podemos ignorar tambĂ©m a dimensão internacional do problema. Infraestruturas crĂticas são, cada vez mais, interconectadas alĂ©m das fronteiras nacionais. Isso exige que a cooperação tĂ©cnica entre paĂses seja elevada a um novo patamar de agilidade, inteligĂȘncia e confiança mĂștua. A coordenação entre autoridades pĂșblicas, operadores privados e equipes de resposta a incidentes (CSIRTs) não pode mais ser opcional ou cerimonial: ela precisa ser orgânica e funcional", defende Coelho.