Burnout e obrigatoriedade de gerenciar riscos psicossociais acendem alerta vermelho para empresas em 2025

Com novas regras em vigor, empregadores precisam ampliar esforços para cuidar da saúde mental da equipe

Por Redação em 23/03/2025 às 19:35:43

Desde o inĂ­cio deste ano, a CID-11 (Classificação Internacional de Doenças) passou a reconhecer oficialmente a sĂ­ndrome de burnout como uma doença ocupacional no Brasil. A medida segue um movimento iniciado pela OMS (Organização Mundial da SaĂșde) em 2022, quando o órgão internacional categorizou o transtorno entre as condições relacionadas ao trabalho. Com o código QD85 registrado nos atestados mĂ©dicos, empregados brasileiros diagnosticados com burnout agora terão acesso a uma identificação mais especĂ­fica. "A nova classificação elimina a ambiguidade anterior, que descrevia o burnout de forma genĂ©rica e frequentemente confundia seus sintomas com os de outras doenças mentais", esclarece a advogada Ana Claudia Cericatto, integrante do Departamento Trabalhista da Andersen Ballão Advocacia

A mudança exige que empregadores e gestores de recursos humanos se mantenham ainda mais alerta para sinais de desgaste no bem-estar de sua equipe, orienta a especialista. Essa classificação responde a indicadores alarmantes sobre a sĂ­ndrome, um fenômeno que se dissemina no mercado de trabalho atual.

Riscos psicossociais

Paralelamente a essa inclusão, a gestão da saĂșde mental no ambiente de trabalho contarĂĄ com novas exigĂȘncias legais a partir de maio de 2025, devido a outra novidade em âmbito trabalhista. Após esse limite, empresas de todos os portes passarão a serem obrigadas a identificar e gerenciar os chamados riscos psicossociais em âmbito organizacional, como determina a atualização da Norma Regulamentadora nÂș 1 (NR-1). As novas regras, estabelecidas pelo MinistĂ©rio do Trabalho e Emprego, valerão para empregadores de todos os segmentos, mas setores com alta incidĂȘncia de adoecimento psicológico, como teleatendimento, bancos e saĂșde, estarão entre os mais fiscalizados.

"Isso significa que a gestão de recursos humanos terĂĄ de reconhecer e administrar fatores preventivamente que possam impactar a saĂșde mental de trabalhadores, desencadeando problemas como ansiedade, depressão, burnout e afastamentos recorrentes", explica. Segundo ela, a gama de riscos psicossociais incluem jornadas excessivas, falta de autonomia, assĂ©dio moral e metas inalcançĂĄveis.

Para evitar problemas trabalhistas e assegurar conformidade, a especialista recomenda que as empresas implementem estratĂ©gias preventivas, o que engloba programas de suporte à saĂșde mental, canais de denĂșncia internos e revisão de prĂĄticas organizacionais. "AlĂ©m disso, auditorias internas e a contratação de consultores especializados podem ajudar a mapear esses riscos e criar estratĂ©gias eficazes de mitigação", reforça. A implementação dessas prĂĄticas não apenas assegura o cumprimento legal, mas fortalece o clima organizacional.

Demissão por vingança

A classificação do burnout como doença ocupacional e o compromisso legal em gerenciar riscos psicossociais tambĂ©m dialogam com uma tendĂȘncia fora dos aspectos jurĂ­dicos, mas que traz problemas para gestores de RH com a retenção de empregados. Segundo o relatório Glassdoor Worklife Trends 2025, a "demissão por vingança" serĂĄ um comportamento mais recorrente no mercado de trabalho, resultado do aumento de casos de burnout e outras doenças mentais, mas tambĂ©m de percepções sobre ausĂȘncia de reconhecimento e desconexão entre valores das organizações e pessoais. O movimento reflete a insatisfação de talentos que sentem que sua saĂșde mental Ă© negligenciada e que estão estagnados. "Com isso, abandonam seus empregos de forma repetina, o que gera prejuĂ­zos para empresas que precisam lidar com alta rotatividade, investimentos em novos processos de capacitação de trabalhadores novatos e perda de resultados", analisa a advogada.

O estudo revela que 65% dos empregados se consideram presos a funções sem perspectivas, o que pode desencadear uma onda maior de "demissões por raiva".

"A mensagem aos empregadores Ă© clara: se não investirem no engajamento dos colaboradores e em consultorias para alinhamento das prĂĄticas internas com as regulamentações trabalhistas, enfrentarão desafios crescentes na retenção de talentos e no âmbito judicial", alerta a advogada.


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