Desde o inĂcio deste ano, a CID-11 (Classificação Internacional de Doenças) passou a reconhecer oficialmente a sĂndrome de burnout como uma doença ocupacional no Brasil. A medida segue um movimento iniciado pela OMS (Organização Mundial da SaĂșde) em 2022, quando o órgão internacional categorizou o transtorno entre as condições relacionadas ao trabalho. Com o código QD85 registrado nos atestados mĂ©dicos, empregados brasileiros diagnosticados com burnout agora terão acesso a uma identificação mais especĂfica. "A nova classificação elimina a ambiguidade anterior, que descrevia o burnout de forma genĂ©rica e frequentemente confundia seus sintomas com os de outras doenças mentais", esclarece a advogada Ana Claudia Cericatto, integrante do Departamento Trabalhista da Andersen Ballão Advocacia
A mudança exige que empregadores e gestores de recursos humanos se mantenham ainda mais alerta para sinais de desgaste no bem-estar de sua equipe, orienta a especialista. Essa classificação responde a indicadores alarmantes sobre a sĂndrome, um fenômeno que se dissemina no mercado de trabalho atual.
Riscos psicossociais
Paralelamente a essa inclusão, a gestão da saĂșde mental no ambiente de trabalho contarĂĄ com novas exigĂȘncias legais a partir de maio de 2025, devido a outra novidade em âmbito trabalhista. Após esse limite, empresas de todos os portes passarão a serem obrigadas a identificar e gerenciar os chamados riscos psicossociais em âmbito organizacional, como determina a atualização da Norma Regulamentadora nÂș 1 (NR-1). As novas regras, estabelecidas pelo MinistĂ©rio do Trabalho e Emprego, valerão para empregadores de todos os segmentos, mas setores com alta incidĂȘncia de adoecimento psicológico, como teleatendimento, bancos e saĂșde, estarão entre os mais fiscalizados.
"Isso significa que a gestão de recursos humanos terĂĄ de reconhecer e administrar fatores preventivamente que possam impactar a saĂșde mental de trabalhadores, desencadeando problemas como ansiedade, depressão, burnout e afastamentos recorrentes", explica. Segundo ela, a gama de riscos psicossociais incluem jornadas excessivas, falta de autonomia, assĂ©dio moral e metas inalcançĂĄveis.
Para evitar problemas trabalhistas e assegurar conformidade, a especialista recomenda que as empresas implementem estratĂ©gias preventivas, o que engloba programas de suporte à saĂșde mental, canais de denĂșncia internos e revisão de prĂĄticas organizacionais. "AlĂ©m disso, auditorias internas e a contratação de consultores especializados podem ajudar a mapear esses riscos e criar estratĂ©gias eficazes de mitigação", reforça. A implementação dessas prĂĄticas não apenas assegura o cumprimento legal, mas fortalece o clima organizacional.
Demissão por vingança
A classificação do burnout como doença ocupacional e o compromisso legal em gerenciar riscos psicossociais tambĂ©m dialogam com uma tendĂȘncia fora dos aspectos jurĂdicos, mas que traz problemas para gestores de RH com a retenção de empregados. Segundo o relatório Glassdoor Worklife Trends 2025, a "demissão por vingança" serĂĄ um comportamento mais recorrente no mercado de trabalho, resultado do aumento de casos de burnout e outras doenças mentais, mas tambĂ©m de percepções sobre ausĂȘncia de reconhecimento e desconexão entre valores das organizações e pessoais. O movimento reflete a insatisfação de talentos que sentem que sua saĂșde mental Ă© negligenciada e que estão estagnados. "Com isso, abandonam seus empregos de forma repetina, o que gera prejuĂzos para empresas que precisam lidar com alta rotatividade, investimentos em novos processos de capacitação de trabalhadores novatos e perda de resultados", analisa a advogada.
O estudo revela que 65% dos empregados se consideram presos a funções sem perspectivas, o que pode desencadear uma onda maior de "demissões por raiva".
"A mensagem aos empregadores Ă© clara: se não investirem no engajamento dos colaboradores e em consultorias para alinhamento das prĂĄticas internas com as regulamentações trabalhistas, enfrentarão desafios crescentes na retenção de talentos e no âmbito judicial", alerta a advogada.