Por Aline Gonçalves*
Em meio à correria do dia a dia e à enxurrada de informações, o verdadeiro ato de escutar tem se tornado cada vez mais raro e, paradoxalmente, mais necessário. A escuta ativa não é apenas ouvir as palavras do outro, mas envolver-se profundamente na mensagem recebida, captar nuances, emoções e intenções que muitas vezes ficam submersas na superficialidade da comunicação cotidiana.
Quando abrimos espaço para realmente ouvir, transformamos a maneira como nos relacionamos e compreendemos o mundo. Seja em conversas, reuniões e até nos momentos de silêncio compartilhado ou não, estar presente significa entregar o foco total ao interlocutor. Essa prática exige paciência, atenção e o corajoso abandono do ego, permitindo que cada palavra e gesto sejam absorvidos com empatia e o outro possa assumir o protagonismo daquele diálogo. Desta forma, o diálogo se enriquece, criando uma conexão que transcende o simples intercâmbio de informações.
Por outro lado, quando não praticamos a escuta ativa, rapidamente enfrentamos uma série de perdas significativas. Deixar de ouvir pode criar barreiras invisíveis - aquela sensação incômoda de não ser compreendido ou a frustração de perceber que as mensagens se perdem em meio a julgamentos apressados e interpretações superficiais. Com isso, as relações se fragilizam, os laços se afrouxam, pois a falta de escuta gera mal-entendidos, pode ocasionar conflitos e, em última instância, promove uma distância emocional que se manifesta tanto no âmbito pessoal quanto no profissional.
A ausência do "verdadeiro ouvir" pode ter implicações muito profundas. Sem a prática consciente da escuta, as conversas se transformam em monólogos disfarçados de diálogo, onde cada um permanece preso em seus próprios pensamentos, expectativas e necessidades. Essa desconexão impede a prática da empatia e o surgimento da confiança, elementos essenciais para a construção de relações sólidas. Podemos dizer que perdemos a chance de entender o outro e também de sermos transformados por essa troca. É como se a vida se tornasse uma série de fragmentos desconexos, onde o sentimento de pertencimento, tão necessário para o fortalecimento da nossa identidade, e compreensão mútua se diluísse em meio à pressa, ao desinteresse e às tantas urgências cotidianas.
À pratica verdadeira da escuta de qualidade, vai além de prestar atenção às palavras expressas pelo interlocutor; é observar o tom de voz, os silêncios, as pausas, as respirações profundas, expressões faciais e até os gestos que acompanham a fala. É reconhecer que quando nos dispomos a ouvir de verdade, estamos não somente praticamente uma comunicação eficaz, como também, estamos acolhendo um universo de significados. Esse processo requer, portanto, humildade, pois implica admitir que não detemos todas as respostas e que, muitas vezes, o aprendizado nasce justamente da vulnerabilidade de se expor e de se conectar com o outro.
Em um mundo cada vez mais dominado pela velocidade e pela superficialidade das interações digitais, resgatar a essência do ouvir torna-se um ato revolucionário e de resistência. Cada vez que optamos por dedicar alguns minutos para compreender profundamente o outro, estamos reafirmando a importância daquele ser humano, de suas histórias e da sua existência. Portanto, cultivar a escuta ativa é investir em conexões verdadeiras, dando real valor às emoções que se revelam e aos momentos de intimidade que só surgem quando realmente nos dispomos a ouvir.
Agora reflita: quantas oportunidades foram perdidas em suas experiências pessoais e profissionais, por você não ter ouvido com atenção? Quantos mal-entendidos e conflitos poderiam ter sido evitados se a escuta ativa fosse parte integrante do seu dia a dia?
Ouvir genuinamente é uma prática transformadora.
A partir de agora, permita que cada conversa se torne uma oportunidade de crescimento pessoal e de fortalecimento dos seus relacionamentos. Afinal, não é por acaso que temos dois ouvidos e apenas uma boca - um lembrete de que, de fato, o poder está em ouvir mais do que falar.
(*) Fonoaudióloga, consultora e coach de comunicação.